São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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Médicos lançam cruzada contra o cigarro

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Médicos e entidades ligadas à saúde estão lançando uma nova ofensiva contra o fumo no país.
Um amplo estudo sobre a economia e a prevalência do fumo no país, em preparação pela Fundação Getúlio Vargas, conclui que campanhas de informação sobre o cigarro poderiam anular os efeitos da propaganda da indústria do tabaco.
A p esquisa foi encomendada pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), órgão do Ministério da Saúde, e será usada para "informar corretamente" parlamentares e autoridades sobre o custo-benefício da indústria do cigarro.
"Cada dólar que a indústria arrecada para o país significa US$ 1,5 em gastos com hospitalizações, faltas ao trabalho e aposentadorias de fumantes", afirma Marcos Moraes, presidente do Inca.
Segundo ele, a relação de ganhos e perdas foi feita pela Organização Mundial da Saúde e está sendo confirmada pelo estudo da FGV.
Propaganda
Em Belo Horizonte, a nova diretoria da Sociedade Brasileira de Pneumologia informou que lutará para banir a propaganda do cigarro da mídia. "Só assim conseguiremos evitar que surjam novas gerações de fumantes", diz Waldir Teixeira do Prado, presidente da sociedade empossado na semana passada.
Durante o 28º Congresso Brasileiro de Pneumologia, que presidiu na capital mineira, Prado retirou os cinzeiros, e o cigarro foi proibido até nos banheiros.
Em São Paulo, o cancerologista Drauzio Varella propõe que familiares e vítimas do cigarro entrem com ações na Justiça exigindo indenização das indústrias. Quer também que os fabricantes de cigarro paguem a conta da rede pública de saúde.
"Cerca de 90% dos cânceres de pulmão, além de outras doenças, são causados pelo fumo. As pessoas morrem em grande sofrimento. A indústria têm de pagar por isso."
Segundo Varella, os fumantes são "vítimas de propaganda enganosa", pois a indústria não informa que o cigarro é a droga que mais vicia nem enumera a relação de doenças que causa.
"A publicidade incentiva o garoto a fumar. Mais tarde, quando ele cai doente de câncer, a indústria lava as mãos e o joga para a saúde pública."
Para Varella, "é crime vender uma droga que provoca tantos danos". "A sociedade, os governos e a Justiça devem cobrar a punição desse crime."
O pneumologista Mário Rigatto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, diz que o cigarro deveria "ser vendido em farmácia, com prescrição médica".
Segundo ele, as tarjas de advertência que aparecem nos cigarros e nas propagandas "interessam apenas às indústrias". "Foi uma forma que encontraram para fugir ao pagamento de indenizações cobradas pelas vítimas na Justiça."

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