São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em defesa dos nossos povos

VICENTE PAULO DA SILVA; LUIZ ANTÔNIO DE MEDEIROS; ENIR SEVERINO DA SILVA

VICENTE PAULO DA SILVA, LUIZ ANTÔNIO DE MEDEIROS e ENIR SEVERINO DA SILVA
No dia 26, os trabalhadores argentinos mais uma vez pararam o trabalho em protesto contra a política econômica, de exclusão social, imposta pelo governo Menem. Desta vez, realizaram greve de 36 horas, e um grande ato em Buenos Aires, que reuniu cerca de 100 mil manifestantes. Uma delegação de sindicalistas brasileiros, da Central Única dos Trabalhadores, Força Sindical e Confederação Geral dos Trabalhadores, esteve em Buenos Aires, prestando solidariedade ativa, apoiando a luta dos companheiros argentinos.
Assim como o governo brasileiro, também o governo argentino empenha-se em cumprir metas e seguir modelos que punem nossos povos com políticas que levam ao desemprego crescente, à perda de direitos trabalhistas, à inadimplência e fechamento de várias empresas. Acentua-se a exclusão social.
Os custos sociais do modelo econômico adotado por Carlos Menem são gravíssimos. O déficit fiscal deste ano deve ser de US$ 6,6 bilhões, enquanto o país enfrenta uma taxa de desemprego de 17,2% da população economicamente ativa (aproximadamente 2,5 milhões de pessoas) e índice de pobreza de quase 19% da população. No entanto, o presidente Menem afirmou que "nenhum protesto social irá mudar o rumo" por ele adotado.
Palavras graves, vindas de um presidente. Um chefe de governo que declara que não ouvirá os reclamos do povo. Nós, trabalhadores brasileiros, ouvimos e somos solidários aos clamores do povo argentino. Como foi dito na manifestação em Buenos Aires, "o governo tem de entender que essa situação está insuportável, não se pode governar dando as costas ao povo".
Também no Brasil, que segue matriz semelhante à argentina, o desemprego ceifa a fonte de renda de milhões e milhões de famílias. Fábricas fecham. Juros altíssimos impedem os investimentos na produção e na geração de empregos, enquanto favorecem a especulação financeira. O grave problema da distribuição da terra não é solucionado. Apesar de a inflação estar sob controle e a moeda estável, o que é positivo, os salários são abandonados e reduzidos.
Assim como os trabalhadores argentinos, também estamos em luta. As centrais sindicais estão preparando vários movimentos, entre eles o "Reage, Brasil!", contra a violência do desemprego, dos baixos salários, da falta de terra para os que nela querem trabalhar; contra a violência dos juros altos e do sucateamento do parque industrial aqui instalado.
No dia 26, os bancários realizaram greve por salários e melhorias no atendimento ao público, com o apoio de todas as centrais, e os metalúrgicos entregaram pautas unificadas na Federação da Indústria do Estado de São Paulo e no Ministério da Fazenda, e em São Paulo realizamos manifestação de todas as centrais diante do consulado argentino, em apoio à luta do povo irmão.
Aqui, como na Argentina e nos outros países latino-americanos, a luta dos trabalhadores é por dignidade, pela prioridade à questão social, pela melhoria da qualidade de vida e de trabalho, pela geração de empregos e pelo respeito e ampliação dos direitos trabalhistas.
Estamos todos empenhados no congraçamento de nossos países e de nossos povos. Em especial, estamos empenhados no estabelecimento e cumprimento de parâmetros sociais comuns nos marcos do Mercosul, que propiciem o desenvolvimento do conjunto deste nosso tão sofrido continente.
Durante nossa estada em Buenos Aires, realizamos reunião com sindicalistas da Argentina, Venezuela, Paraguai e Uruguai. Estamos estudando ações comuns contra o desemprego, a precarização dos direitos trabalhistas e das condições de trabalho. Com a interdependência das economias desses países, é necessária uma ação conjunta dos trabalhadores. Realizaremos, nos próximos dias 7 e 8, em São Paulo, nova reunião com os sindicalistas de todos esses países, para aprofundarmos os pontos em comum e traçarmos ações e empreendimentos unitários.
A situação da Argentina hoje é muito grave. É uma realidade chocante, caótica, que não podemos permitir que se reproduza em outros países, inclusive o nosso. Estamos decididos a impedir a discriminação contra os trabalhadores de toda a América Latina.
Segundo a imprensa da Argentina, houve adesão ao protesto de 50% a 80% em quase todas as províncias do país, com a inatividade nas regiões industriais da Grande Buenos Aires, Córdoba, Rosário e Tucuman. Até em La Rioja, terra natal de Menem, ocorreram protestos e paralisações, pela primeira vez, desde a posse do presidente argentino há sete anos. Nessa província, o comércio fechou e a cidade industrial de Chilecito parou.
A Argentina reage contra o desemprego, a fome e a exclusão social. Reage, Brasil! Todo o nosso apoio à luta dos trabalhadores argentinos! Toda a nossa união em defesa dos trabalhadores do nosso continente!

Vicente Paulo da Silva, 40, é presidente da Central Única dos trabalhadores (CUT).
Luiz Antônio de Medeiros, 48, é presidente da Força Sindical.
Enir Severino da Silva, 49, é presidente da Confederação Geral dos Trabalhadores.

Texto Anterior: Custo Brasil; Contra-ataque; Mais competição; Na prancheta; Saída pelo rio; Guerra dos sexos - 1; Guerra dos sexos - 2; Paella mineira; Com pressa; Saúde no remédio; Compasso de espera; Passando a cartola; Guerra do crédito; Novas baixas; Máquina dividida; Linha inteligente; In vitro; Malas prontas; De lá para cá; Ladrão do futuro; Recuo estratégico
Próximo Texto: Facilitário tributário
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.