São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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Judeus investigam "conexão brasileira"

DANIEL BRAMATTI
DE BUENOS AIRES

O Brasil pode ter recebido uma parte do ouro roubado das vítimas dos nazistas na Segunda Guerra Mundial, segundo o argentino Rubén Beraja, vice-presidente do Congresso Judaico Mundial.
Beraja integra a comissão internacional que investiga o paradeiro dos recursos saqueados dos judeus e de bancos de países ocupados pelos alemães.
A investigação está avançando com a abertura de arquivos confidenciais nos Estados Unidos. "Documentos mostram que os serviços de inteligência detectaram rotas de fundos e de metais em países da América do Sul", disse Beraja em entrevista à Folha.
Entre os países da "conexão latino-americana" estariam o Brasil e a Argentina.
Empresas
A confirmação sobre a existência da rota brasileira deve sair "nas próximas semanas", segundo Beraja, que também preside a Daia (Delegação de Associações Israelitas da Argentina).
Empresas Sobre a utilização de bancos argentinos pelos nazistas já não há mais dúvidas. Os investigadores têm documentos que mostram o país como um dos principais destinos do ouro saqueado na Europa.
O presidente Carlos Menem já determinou a abertura dos arquivos do Banco Central da Argentina, com o objetivo de facilitar a pesquisa. Também estão sendo rastreados investimentos de capital em empresas argentinas, vinculadas ou não a empresas alemãs.
Após o final da guerra, vários nazistas acusados de crimes se refugiaram na Argentina. Uma parte do dinheiro depositado nos bancos do país pode ter servido para sustentar a colônia de refugiados recém-chegados.
Nem todos os recursos teriam permanecido nos bancos argentinos. "Pode ter acontecido aqui o que atualmente se chama de lavagem de dinheiro", afirmou Beraja
Valor controverso.
Os investigadores ainda não conseguiram chegar a um consenso sobre o valor total do saque nazista. "Há informações conflitantes. Alguns falam de US$ 5 bilhões e outros de US$ 50 bilhões."
Depois de rastrear os recursos, a intenção da comissão é fazer com que eles cheguem aos herdeiros das vítimas. A principal tarefa em outubro é contratar uma ou mais empresas de auditoria para analisar as contas em bancos suíços que não são movimentadas desde o final da guerra.
A revelação de novidades sobre a rede que ajudou nazistas a escaparem do julgamento é outro objetivo da comissão. "Queremos determinar com exatidão a conduta dos governos da época. É uma maneira de ganhar experiência para o futuro", disse Beraja.
Até o momento, os investigadores não encontraram resistências significativas por parte de governos ou instituições financeiras. "Há uma sensação de estupor com a boa disposição dos banqueiros suíços. As reuniões têm sido bastante construtivas", disse.

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