São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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Panamá que ser "Cingapura caribenha"

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Panamá está tentando ser a Cingapura da América Latina.
Um dos motivos que permite ao pequeno país da América Central sonhar em virar a versão caribenha de um tigre asiático poderá ser apreciado em uma cerimônia depois de amanhã.
Nesse primeiro dia do mês os norte-americanos entregam ao Panamá o Forte Amador, uma área de 161 hectares espalhados por três ilhas próximas da capital do país nas quais existem 185 residências, teatro, restaurante, piscinas e até um campo de golfe.
Os panamenhos querem transformar o antigo quartel em um centro turístico com hotéis de quatro e cinco estrelas, além de ancoradouro para navios de cruzeiros e -naturalmente- pretendem ampliar o campo de golfe.
O fato de um país estar recebendo de volta parte de seu próprio território é consequência da complicada história do Panamá.
O país nasceu em 1903 intimamente ligado aos desejos americanos de construir um canal entre os oceanos Pacífico e Atlântico no ponto mais estreito das Américas.
Mas é a quantidade total de território e, principalmente, de instalações de qualidade de Primeiro Mundo que permite ao governo do Panamá planejar um salto desenvolvimentista nesse final de século.
Os norte-americanos estão revertendo ao Panamá seu território por meio de um processo lento e que começou em 1977.
Nesse ano, um novo tratado estipulou que os panamenhos voltariam a ser donos de 100% de seu país, e do canal que passa por ele, de modo gradual, até o dia 31 de dezembro de 1999.
As instalações americanas em várias bases espalhadas ao longo do canal somam cerca de 7.000 novos prédios que o governo do Panamá vai incorporar. Mas nem tudo é lucro, pois a saída dos mais de 7.000 militares americanos hoje no Panamá vai afetar duramente a economia local se não forem criadas alternativas até o ano 2000.
O processo foi atrasado pela turbulenta vida política recente do país. Na área de Epinar, por exemplo, os edifícios tinham sido revertidos já em 1979.
Foram usados pelos militares panamenhos e sofreram bombardeios na invasão de 1989. Muitos estão ainda em mau estado.
A comparação com Cingapura foi feita por Nicolás Ardito Barletta, ex-presidente panamenho e atual administrador geral da ARI (Administração da Região Interoceânica), a entidade que cuida de planejar o desenvolvimento das áreas revertidas.
Barletta estará em São Paulo entre 20 e 22 de outubro para expor a empresários brasileiros planos e oportunidades de investimento.
Investimento
Cingapura, com uma localização geográfica privilegiada no caminho das rotas de comércio marítimo na Ásia, deixou de ser colônia e perdeu uma grande base militar britânica nos anos 60.
A opção do país foi investir em turismo, serviços bancários e indústrias de alta tecnologia. Hoje é um dos países com maior renda per capita da Ásia.
O Panamá quer aproveitar a saída das bases americanas e investir nos mesmos setores: turismo, indústrias para exportação, serviços bancários e marítimos e desenvolvimento de ciência e tecnologia.
Parte disso já existe. O país tem 117 bancos com US$ 33 bilhões em ativos, diz ele. Sua zona livre de comércio é a maior das Américas e rivaliza com a de Hong Kong.
Por ser uma "bandeira de conveniência", atraiu armadores de todo o mundo em troca de vantagens fiscais (sua frota mercante é a maior do mundo).
Assim como Cingapura, um dos trunfos é a posição geográfica. O canal ainda é uma das vias importantes de tráfego marítimo, principalmente para navios graneleiros.
A comparação com Ásia também tem seu lado mais concreto. Grande parte do investimento que os panamenhos estão buscando para utilizar as áreas revertidas vêm do Oriente -do Japão, de Taiwan e da Coréia do Sul.

O jornalista Ricardo Bonalume Neto viajou ao Panamá convite da ARI (Administração da Região Interoceânica).

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