São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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Álcool: um remédio?

MARIANE COMPARATO

Estudos mostram que o álcool pode beneficiar quem sofre de doença coronariana
Não se espante se algum amigo que sofre de doença coronária (artérias que irrigam o coração) lhe disser que está tomando uísque por recomendação médica.
De fato, pesquisadores da universidade de Harvard chegaram à conclusão de que a ingestão de álcool em doses moderadas -no máximo 30 ml de etanol por dia, ou uma a duas doses de uísque, ou ainda uma a duas latinhas de cerveja- pode evitar um ataque cardíaco.
"Por nossa experiência, podemos dizer que os destilados aumentam a quantidade de HDL, o dito 'bom colesterol', no sangue", afirma o cardiologista Ernandi Faria.
O diretor clínico do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, Michel Batloni, explica: "O HDL propicia o transporte reverso de gordura da célula da parede arterial para o fígado, onde é metabolizada". Geralmente, o que ocorre é o contrário. A gordura fica armazenada na célula, intoxicando a parede arterial, o que é mais conhecido como alta taxa de colesterol.
O professor titular da disciplina de gastroenterologia da Universidade Federal de São Paulo, Moysés Mincis, afirma que o álcool em pequenas doses também diminui a agregação plaquetária (torna mais difícil a formação de coágulos no sangue).
No entanto, todos advertem para o uso indiscriminado do álcool. A recomendação requer cuidado: não se sabe o quanto um indivíduo é sensível à substância. "Os perigos do alcoolismo são muito maiores que os eventuais benefícios", adverte Batloni.
Os malefícios podem ser maiores também para as mulheres: "Ela tem um metabolismo do etanol diferente do homem e é, portanto, mais predisposta ao efeito prejudicial do álcool", diz Mincis. As mulheres que ingerem álcool de maneira crônica têm maior risco de ter câncer de mama, entre outras doenças.
A revista médica "New England Journal of Medicine" publicou no ano passado um estudo em que a prescrição do álcool para mulheres só fazia efeito em mulheres com mais de 50 anos e que apresentavam riscos de doença coronária.
Vinho tinto
Se o álcool ainda causa controvérsia, todos concordam quanto à maior eficiência do vinho tinto. Em algumas regiões viníferas da França, tem-se o hábito de consumir muita gordura (queijos e patês) e um ou dois copos de vinho tinto por dia. A incidência de problemas cardiovasculares nesses indivíduos é muito pequena: é o chamado "paradoxo francês".
É que o vinho tinto contém em grande quantidade radicais fenólicos (potentes antioxidantes não-alcoólicos), que impedem a oxidação das lipoproteínas. Essas, portanto, não serão tóxicas para a parede arterial.
O álcool pode evitar um infarto em pessoas que sofrem de doenças coronarianas, mas pode trazer riscos para quem não tem essa propensão.
O endocrinologista Alfredo Halpern dá o veredicto: "Se você quiser viver bastante, coma pouco, beba moderadamente e faça bastante exercício".

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