São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
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Mortalidade despenca em vila de pescadores

AURELIANO BIANCARELLI
DO ENVIADO ESPECIAL

Prainha do Canto Verde é uma vila de pescadores escondida por dunas onde porcos chafurdam entre jangadas de velas coloridas. O lugar fica a 100 km de Fortaleza, no município de Beberibe.
Além da beleza e do isolamento, Prainha tem outros méritos: nenhuma criança morreu ali em 1996 e todas as mães com bebês de até seis meses estão amamentando.
São cerca de 150 famílias. A agente de saúde Maria do Socorro Guimarães, 29, cuida de 77. Nenhuma das cerca de 80 crianças que acompanhou em seis anos ou vem acompanhando morreu. Socorro conhece todas as crianças pelo nome, sabe a data de nascimento e o peso tomado na última vez.
"O trabalho termina as cinco da tarde, mas se uma criança cai doente ou uma mulher está ganhando nenê, batem lá em casa qualquer hora da noite", conta.
Socorro, que ganha um salário mínimo, percorre as casas que se espalham por três quilômetros carregando balança, fita métrica e caderneta de anotações.
Está preocupada com Mateus Alves da Silva, que mora num barraco junto da areia. Nove meses, dois quilos abaixo do peso, Mateus tem diarréia constante. Há duas semanas que ele espera pelo médico, mas as visitas foram interrompidas desde que o candidato do prefeito perdeu as eleições e a equipe parou os trabalhos. A mãe de Mateus, Maria Estela da Silva, tem 37 anos, mas aparenta 50.
Socorro trabalha há seis anos como agente de saúde e herdou a profissão do pai, Luiz Gama da Silva, 56. Pescador desde menino, Silva trocou o mar pelo trabalho de agente de saúde quando a "vista ficou fraca".
O Programa de Saúde da Família de Beberibe, 40 mil habitantes, tinha seis equipes, cada uma com médico, enfermeiro, dentista e cerca de 12 agentes de saúde.
A mortalidade infantil no município caiu de 157 por mil em 92 para cerca de 40 hoje.

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