São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
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Volume recorde de bônus

CELSO PINTO

O Brasil emitiu um volume recorde de US$ 9,955 bilhões em bônus internacionais em 1996, um salto de 91% em relação aos US$ 5,223 bilhões de 95. O salto é expressivo, mas não exclusivo do Brasil: a emissão total de bônus por países latino-americanos cresceu 106%, de US$ 21,8 bilhões em 95 para US$ 45,1 bilhões em 96, atingindo o nível mais alto de sua história.
Os dados são da Capital Data Bondware e vão até o dia 10 de dezembro. Os dados mais recentes para o Brasil, do Banco Central, que incluem também as "notes", indicam um volume de US$ 11,7 bilhões de janeiro a outubro de 96, um aumento de 48% sobre igual período de 95. Desde a crise do México, em dezembro de 1994, portanto, a América Latina recuperou integralmente seu crédito junto aos investidores internacionais. A liderança no volume de emissões continuou a ser do México, com US$ 17,7 bilhões, um salto de 135% sobre o total de US$ 7,5 bilhões em 95. A Argentina, segunda maior emissora, mais do que dobrou suas colocações, de US$ 6,4 bilhões em 95 para US$ 13,3 bilhões em 96. O Brasil ficou com uma fatia de 22% do total dos bônus latino-americanos. O vigor nas emissões de bônus ajudou a financiar um buraco nas contas externas (déficit em conta corrente) estimado em US$ 29,5 bilhões para a América Latina em 96, pelos cálculos do West Merchant Bank. O déficit foi largamente coberto por um ingresso de US$ 47 bilhões de capitais externos.
Para este ano de 1997, o banco estima um déficit em conta corrente conjunto de US$ 44 bilhões para a América Latina. Na verdade, ele pode ser ainda maior, porque a estimativa para o Brasil é otimista, de um déficit de US$ 22,5 bilhões, enquanto a maioria das estimativas indica um déficit entre US$ 25 bilhões e US$ 28 bilhões.
Mesmo que prevaleça a estimativa mais pessimista, o ingresso líquido de capitais esperado para este ano, de US$ 51 bilhões, deverá compensar o déficit. Para que este cenário tranquilo ocorra, de todo modo, será preciso contar com um mercado finan ceiro internacional sem grandes sustos e um cenário econômico e político latino-americano sem surpresas desagradáveis.
Do lado do mercado internacional, as duas maiores preocupações são um aumento mais forte nos juros americanos e alguma queda mais acentuada na bolsa de Nova York. Os juros dependem da manutenção de uma taxa moderada de crescimento na economia americana. As previsões são de algum aumento gradual dos juros, mas nada que implique traumas. Em relação à bolsa americana, existe muito mais controvérsia. É claro que um aumento mais brusco dos juros derrubaria a bolsa, mas se ele não ocorrer?
Analistas de peso como Barton Biggs, do Morgan Stanley, acham que o mercado subiu muito mais do que o razoável e que uma correção é inevitável. Biggs acha que se essa correção for apenas um ajuste cíclico, as ações poderão cair de 20% a 30%. Se, ao contrário, acontecer o que ele chama de "ajuste secular", a queda poderá chegar a 40% ou mais. Um desastre. Outros analistas, ao contrário, acham que a extraordinária alta da Bolsa de Nova York desde 1994 pode ser explicada por um ajuste, com defasagens, ao aumento da lucratividade das empresas americanas. Nos anos 70, os lucros cresceram o dobro do preço das ações; nos anos 80 aconteceu o oposto. Desde 1991 até agora, as ações subiram tanto quanto os lucros, só que a alta das ações foi mais concentrada em 95 e 96.
Já em relação às possíveis surpresas no cenário latino-americano, todos concordam que três episódios são decisivos: a votação da reeleição no Brasil e as eleições para o Congresso em julho no México e em outubro na Argentina.
No México, o PRI, partido no poder desde o início do século, corre o risco de perder a maioria no Congresso e as eleições na Cidade do México. A recuperação econômica mexicana poderá sofrer com isso.
Na Argentina, as eleições serão um teste importante para o plano econômico. Uma derrota certamente abalaria a convicção reformista do governo Menem.

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