São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
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Agentes diminuem mortalidade no NE

Programa reduz número de crianças subnutridas

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os agentes comunitários de saúde são responsáveis pelos dois maiores feitos do governo Fernando Henrique Cardoso na área de saúde: a redução da mortalidade infantil no Nordeste e a queda do número de crianças subnutridas de até 5 anos.
Nos municípios nordestinos atendidos por agentes comunitários, a mortalidade infantil caiu pelo menos 20% de 1994 para cá.
As quedas mais significativas aconteceram na Paraíba (45,5%), Bahia (42,8%), Pernambuco (38,7%), Ceará (37,9%), Maranhão e Piauí (21,6%).
A redução do número de crianças subnutridas impressiona: entre 1986 e 1996 o total de crianças até 5 anos com baixo peso para a idade no Nordeste caiu 35,9% -queda acima da média brasileira, que foi de 16,9%. No centro-sul, não houve redução do número de crianças subnutridas, e na região Norte, a queda foi de 14,1%.
Salário mínimo
Os responsáveis pelo "milagre" ganham salários que variam entre R$ 112 e R$ 280 e, muitas vezes, não chegam a cursar nem a 4ª série do 1º grau.
O exército de agentes de saúde começou a ser formado em 91 e já chega hoje a 44,3 mil pessoas e beneficia 6 milhões de famílias de 1.464 municípios, a maioria da zona rural do Nordeste. Os agentes são selecionados na própria comunidade e não precisam ter formação em saúde. Basta ter mais de 18 anos e saber ler e escrever.
Nas visitas às famílias, fazem um levantamento detalhado do estado de saúde de todos os membros, mas prestam mais atenção às crianças e gestantes.
Os bebês são pesados e medidos. Os agentes também fazem levantamento de quais vacinas não foram aplicadas, para comunicar aos centros de saúde, e ensinam as mães a reconhecer os sinais de desidratação e preparar soro caseiro.
Problemas
Apesar das conquistas, a atuação dos agentes tem abrangência limitada por causa das deficiências das redes locais de assistência médica.
O papel dos agentes é prestar serviços básicos (fazer curativos, ensinar a diagnosticar desidratação e pesar crianças e gestantes) e encaminhar doentes, gestantes e crianças a postos de saúde. Como a rede pública tem carências graves na maioria dos municípios atendidos pelos agentes, os resultados do programa ficam comprometidos.
"O papel do agente é mais orientar do que interferir. Claro que o trabalho fica prejudicado se os postos de saúde não têm médicos ou vacinas", afirma Fátima de Souza, gerente da Coordenação de Saúde da Comunidade, do Ministério da Saúde.
Outra dificuldade é a falta de apoio dos municípios e Estados, que são responsáveis pela seleção e pagamento das enfermeiras que selecionam e treinam os agentes.
"Como os prefeitos não podem indicar os agentes e o programa não realiza nenhuma grande obra, como construção de hospitais, há uma certa má vontade, já que não há benefício eleitoral. E a prática clientelista ainda é muito forte no Nordeste", diz Fátima.

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