São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
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Sindicato orgânico divide grupos da CUT

FÁBIO ZANINI
DA AGÊNCIA FOLHA, NO ABCD

A unificação de sindicatos de uma mesma categoria ou mesmo de trabalhadores em funções diferentes, principal aposta da CUT (Central Única dos Trabalhadores) para fazer frente à reestruturação produtiva, está ameaçada por divergências internas na central.
Os recentes conflitos envolvendo a formação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC mostram a dificuldade que terá a direção da CUT para pôr em prática seu mais ambicioso projeto de reforma da representação trabalhista: a implantação do "sindicato orgânico".
O sindicato orgânico possui como características preponderantes a fusão administrativa de entidades que representam trabalhadores de um mesmo segmento econômico e a incorporação formal do sindicato à estrutura interna da central.
Por se tratar de uma interferência direta na atuação financeira e política das entidades, a proposta já provoca reações em setores de oposição à Articulação, tendência moderada da central que é a principal defensora da mudança.
Para Tânia Mara dos Santos, vice-presidente do Sindicato dos Bancários do ABC, o novo modelo vai causar perda de legitimidade junto aos trabalhadores.
"Não será mais a assembléia de base que tomará a decisão, mas os 'capa-pretas' da central", afirma ela, que se define como "independente" na CUT.
A exemplo dos metalúrgicos, os bancários do ABC também estão "rachados", porque 13 dos 22 diretores, pertencentes à Articulação Sindical, querem fundir a entidade com o Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Protótipo
"O sindicato orgânico é pensado para fortalecer o movimento sindical. A decisão continuará a ser da base", diz Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente da CUT.
Vicentinho foi um dos maiores defensores da criação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em 1993, a partir da união do sindicato de São Bernardo e Diadema com o de Santo André e região.
Na época a união foi concebida como uma espécie de protótipo do novo modelo. A fusão hoje está perto do fracasso.
Um conflito interno na CUT, agravado a partir de março do ano passado, terminou, na prática, com a idéia da central de expandir de imediato a nova estrutura, a partir do ABC, para o resto do país.
Quinze diretores dissidentes da entidade conseguiram recriar o sindicato de Santo André e região, alegando terem sido "anexados" e perdido força política.
O presidente do recriado sindicato de Santo André, José Tomaz Neto, se opõe à idéia do sindicato orgânico concebida pela CUT.
A opinião de Tomaz é que a fusão administrativa, em tese, é boa, mas na verdade serve para a direção da central legitimar a ditadura que já pratica hoje.
"A proposta, como está, seria um desastre para os sindicatos menores, que são a base da central. Eles só serviriam como instrumento de manobra", afirma.
Para o secretário-geral da CUT, João Vaccari Neto, a briga no ABC mostra as dificuldades para romper com 50 anos de uma tradição sindical obsoleta.
"Os processos de terceirização da produção e de diminuição do emprego formal exigem uma nova proposta sindical", afirmou.
Vaccari, assim como Vicentinho, pertence à Articulação Sindical, tendência moderada da CUT que controla cerca de 55% dos sindicatos filiados à central.

LEIA MAIS sobre sindicato orgânico na pág. 2-5

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