São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
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Ramos conta o outro lado da seca

CARLOS CORTEZ MINCHILLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Fabiano, Sinhá Vitória, os meninos, e, ainda, a cadela Baleia. Uma família de retirantes, como as que chegam diariamente às rodoviárias das cidades. Fugindo da seca, encaram a estrada como forma de alcançar o pouco que lhes falta: trabalho e casa, água e comida.
É essa esperança, repleta de angústia e frustrações, que anima as personagens de "Vidas Secas". Esperança que, no entanto, não altera sua dramática situação social: o primeiro capítulo intitula-se "Mudança" e o último, "Fuga".
Repelidos pelo clima e explorados pelos donos de terra, Fabiano e família estão condenados a vagar eternamente à margem de um sistema socioeconômico que não lhes garante direito algum.
Mais que um retrato simplista do Nordeste, mais que uma denúncia social óbvia, Graciliano Ramos desenvolveu um quadro do estado psicológico dos seres que vivenciam experiências tão devastadoras. O narrador em terceira pessoa, graças à onisciência, revela a raiva, medo, sonhos e recalques de Fabiano e família.
Mostra o quanto estão pobres por dentro, a ponto de quase não conseguirem se expressar, comunicando-se por sons guturais e frases interrompidas. Daí a consequente subordinação aos homens "sabidos" da cidade, que falam de modo incompreensível e, com isso, impõem respeito.
Ao narrar o universo sensível das personagens, o autor faz aquilo que a realidade não faz: tratar os retirantes como seres que pensam e sentem.

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