São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
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Andreato leva cartas de Wilde aos palcos

NATASHA SZANIECKI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois de "Solo Mio", "Van Gogh" e "Do amor de Dante por Beatriz", o ator e diretor Elias Andreato surge com mais um espetáculo que fala de amor: "Oscar Wilde, Escritor do Cárcere".
"É bárbaro fazer uma peça na qual posso criar um roteiro em torno do que quero dizer", diz Andreato. "Gosto de opinar, pesquisar, ler e discutir sobre quem admiro", completa.
"Oscar Wilde, escritor do Cárcere" estréia em São Paulo na segunda quinzena de março, no Piccolo Teatro. O enredo gira em torno das cartas que Wilde mandava para lord Alfred Douglas, seu namorado inglês, mais conhecido como Bosie.
As cartas foram escritas nos dois anos em que Wilde esteve preso por reconhecer publicamente que era homossexual.
Para a Inglaterra da época, nos idos de 1891, ter relacionamentos com alguém do mesmo sexo era praticamente um crime.
Para roteirizar e adaptar o espetáculo, Andreato se baseou no livro "De Profundis". A peça é um monólogo dramático de 50 minutos de duração, que retrata claramente a ligação do escritor com Bosie.
Além de falar de amor, a peça permite um questionamento a respeito do público e imprensa. "Wilde dizia que a arte nunca deveria aspirar à popularidade, mas o público deve aspirar a se tornar artístico", adianta Andreato.
Wilde era um questionador convicto das coisas que aconteciam ao seu redor. "O público pede constantemente que a arte seja popular e que agrade a sua falta de gosto", escreveu ele em uma de suas cartas.
"Oscar Wilde, Escritor do Cárcere" revela todas as angústias e inquietações do escritor perante a arte, o sofrimento, o amor e a amizade. "Wilde falava de um amor que não podia dizer o seu nome", analisa Andreato.
Prisão
Apesar de ter sido um homem afetado, confuso e de comportamento um tanto grotesco, Wilde se humanizou depois de passar dois anos na prisão.
Passou a pensar de uma forma diferente, chegando até a fazer cobranças ao namorado, que em nada o ajudou nos tempos difíceis.
Wilde foi preso devido ao pai de Bosie, o Marquês de Queensberry, que não suportou o escândalo de saber que seu filho, na época com 21 anos, andava em público de mãos dadas com um homem.
Queensberry processou judicialmente o perversor de seu filho, acusando Oscar Wilde de sodomia. O desprestígio não tardou a circular por toda a Europa. O escritor enfrentou um julgamento que acabou por destruí-lo interiormente seis anos mais tarde.
Para encarnar Oscar Wilde, todos os dias Andreato ensaia quatro horas sob os olhos atentos da diretora Vivien Buckup, que já dirigiu Tony Ramos em "Cenas de Um Casamento".
O espetáculo já está em retoques finais. O figurino e o cenário estão sendo criados por Fabio Namatan ("Master Class" e o "Livro de Jó"), e a trilha sonora ficou por conta de Ariel Borghi.

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