São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
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NECESSIDADE E FASCÍNIO

A vigorosa expansão das importações brasileiras de produtos supérfluos é sintoma tanto de necessidades quanto do fascínio que as "coisas de fora" sempre exerceram sobre os consumidores brasileiros.
Quando se importam penas de aves para rechear travesseiros, quando a pauta de compras no exterior inclui cestas de palha, claramente se trata menos de necessidade e mais de uma forma peculiar de encantamento. As chamadas "quinquilharias" somaram, entre janeiro e outubro de 1996, cerca de US$ 1 bilhão.
Há, entretanto, muito de necessidade também. Cerca de US$ 2,7 bilhões das importações até outubro consistiam de alimentos. De leite e derivados a crustáceos e hortaliças, o Brasil importou produtos cuja oferta, a princípio, poderia ser satisfeita por produtores locais. Afinal, a costa brasileira é extensa, assim como são abundantes as terras cultiváveis.
Diante desse quadro, o mais fácil é culpar a taxa de câmbio, atribuindo o que parecem importações excessivas às condições macroeconômicas. Embora esse importante fator pese de fato, ele é insuficiente.
Em muitos casos, sobretudo na indústria de alimentos industrializados, há defasagem tecnológica, ausência de investimento em processamento e controle de qualidade. Ainda é assustadora a frequência com que os consumidores tomam conhecimento de produtos que, uma vez sujeitos a algum tipo de fiscalização, revelam-se aquém das exigências.
Outro fator que explica o salto nesse tipo de importações e que não se limita ao câmbio é o Mercosul. A aproximação entre os países cria novos mercados para produtos alimentícios, sobretudo da Argentina. Nesse caso, o aumento nas importações de leite e derivados, queijo ou vinho é sinal de sucesso da integração, não um resultado indesejável.
Entre a necessidade e o fascínio, o aumento nas importações brasileiras pode às vezes parecer chocante. Mas essa estranheza, além de beneficiar os consumidores, pode ser também um ponto de partida para novas oportunidades de negócio.

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