São Paulo, terça-feira, 7 de janeiro de 1997
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O mundo com Aids

AYRTON DANIEL RIBEIRO FILHO

Treze anos após sua descoberta, o HIV já infectou por volta de 29 milhões de pessoas, tendo causado a morte de aproximadamente 6 milhões de adultos e 1,6 milhão de crianças no mundo.
Inicialmente, grupos distintos foram classificados como de alto risco. Nos últimos anos, entretanto, houve uma queda na incidência da doença nesses grupos, obviamente devido ao resultado de uma propaganda maciça sobre a necessidade do uso de preservativos e não-compartilhamento de seringas e devido ao melhor controle dos bancos de sangue.
Ainda assim, a epidemia progride ininterruptamente, principalmente no Hemisfério Sul. Estamos hoje diante de uma mudança importante da noção de transmissibilidade do vírus, que não mais se restringe apenas a esses grupos. Na verdade, a prática heterossexual tem se tornado paulatinamente a via mais importante da transmissão do HIV.
A novidade é o maior risco para o sexo feminino. Pesquisas sugerem que o risco de uma mulher contaminar-se ao manter relações sexuais com um homem HIV soropositivo chega a ser 20 vezes maior que o contrário. No Brasil, encontrou-se que, em meio a mulheres soropositivas de maior escolaridade, 70% se contaminaram pela via heterossexual. Há previsões pouco otimistas de que, no ano 2000, teremos no mundo mais mulheres infectadas que homens.
Uma vez que o vírus pode ser transmitido durante a gravidez, devemos concluir que essa nova vertente traz consigo o alarmante problema da Aids na infância.
Nem tudo são espinhos. 1996 foi o ano do avanço na terapêutica da doença. O esforço de pesquisadores junto a laboratórios e corajosos cidadãos portadores do vírus resultou em novidades animadoras. A bi ou triterapia, conjugando drogas de diferentes mecanismos de ação, mostrou claro incremento na qualidade e no tempo de vida dos indivíduos portadores do HIV. Como o estudo é recente, não se pode ainda confirmar se essa modalidade terapêutica efetivamente cura o indivíduo da doença, mas a esperança de que dentro de alguns anos possamos definitivamente afirmar isso permanece.
Além disso, 5% a 10% dos HIV soropositivos permanecem com seu sistema imunológico aparentemente intacto após pelo menos dez anos da contaminação. São, por isso, uma ótima pista para o possível desenvolvimento da prevenção ativa ou mesmo da cura.
Nos quatro últimos anos deste século, podemos sorrir com a certeza do avanço da terapia antiviral. Afinal, foi neste mesmo século que Fleming nos brindou com nada menos que o antibiótico.

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