São Paulo, quarta-feira, 8 de janeiro de 1997
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MRTA mantém elo com traficantes

DO ENVIADO ESPECIAL

Os rebeldes do MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru) continuam recebendo dinheiro do narcotráfico no Peru, apesar das negativas de seus líderes e da construção da imagem de "bons terroristas".
Embora o poder da aliança terror-tráfico tenha sido reduzido nos últimos cinco anos, ele ainda existe. O MRTA ganha US$ 15 mil por avião carregando tóxico que pousa em pistas sob seu controle na Amazônia peruana.
Cada pequeno traficante deixa até 30% do que ganha para os guerrilheiros. Outros 60% vão para o fornecedor da droga, e 10% ficam no bolso do negociante.
O motivo é a promessa de proteção contra o governo.
Base
No distrito de Rimac, a Folha encontrou contatos que confirmaram os dados e levaram a uma suposta base do MRTA em Chosica (32 km a leste de Lima).
Vendendo cocaína a US$ 150 a onça (30 g) e maconha a 50 soles (R$ 20) a onça, ganham a vida oficialmente como taxistas e vendedores de pacotes turísticos. "Queremos apenas ajudar a luta dos companheiros", disse Javier, 40.
O MRTA está em decadência no Peru. Chegou a ter 2.000 membros, segundo o Departamento de Estado dos EUA, em 1990.
Hoje, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres, são cerca de 300 (cerca de 15 dentro da casa do embaixador), além de 500 presos.
Segundo estudo do coronel da reserva peruano Juan Muñoz Cruz, em 1987 foi firmada uma aliança entre produtores de cocaína do vale de Huallaga e o MRTA -que, por sua vez, chegaram a um armistício com os rivais mais poderosos do Sendero Luminoso.
A repressão dura do governo Fujimori, a partir de 1990, quebrou a espinha dorsal da aliança.
Mas ela resiste. Pequenas cidades, como Chosica, servem de entreposto militar para o MRTA. Lá, um pequeno destacamento de 18 homens cuida da comunicação entre Lima e as bases da selva.
E coletam dinheiro da rota da droga. Não é possível estimar o volume movimentado, mas é certo que está em queda nesta década.
Esconderijo
A Folha foi levada anteontem pelo contato Javier à suposta base do MRTA. Em um Fusca 74 branco, feito no Brasil, a reportagem foi impedida de olhar o caminho após a chegada na cidade.
Chegando a uma chácara com um casebre, ficou por duas horas esperando o "tenente" que prometera conceder entrevista. Ele não apareceu.
Segundo Javier, os rapazes que estavam no local haviam sido recrutados em Iarapoto, cidade na região amazônica.

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