São Paulo, quinta-feira, 9 de janeiro de 1997
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Luxemburgo anuncia reengenharia

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A ATIBAIA

Mais do que ser campeão, o principal objetivo de Wanderley Luxemburgo em 1997 é recuperar o carisma que o Santos tinha na década de 60. "Aqui, só vai jogar quem tiver orgulho de vestir a camisa", afirmou.
Em Atibaia, onde a equipe realiza a pré-temporada até dia 20, o treinador falou à Folha sobre seus projetos para esta temporada.
A primeira mudança será no organograma do futebol, com a criação do cargo de gerente, além da integração das categorias infantil, juvenil, júnior e profissional.
"Quando o Santos me contratou, fez a opção por um sistema de trabalho. Teremos uma estrutura de Primeiro Mundo."
*
Folha - Você ganhou quatro dos sete Campeonatos Paulistas dos anos 90, três com o Palmeiras. No Santos, quais as chances de conseguir mais um título?
Wanderley Luxemburgo - Primeiro, não faço comparações. Segundo, não posso dizer que serei campeão em 97. Um dos erros no futebol é analisar o trabalho de acordo com uma vitória ou uma derrota, às vezes alguma coisa só circunstancial.
O Botafogo foi campeão em 95. E daí? No ano seguinte, desmontou o time, o futebol do Rio está do jeito que estamos vendo. No Santos, quero montar uma estrutura, independentemente de ganharmos o Rio-São Paulo ou não.
Folha - Mas no Santos não será mais difícil do que no Palmeiras?
Luxemburgo - Será até que entendam minha filosofia de trabalho. Depois, as coisas mais fáceis.
Folha - Como será o trabalho?
Luxemburgo - Teremos um departamento de futebol integrado. No Brasil, o técnico trabalha pouco. Comandar um treino de uma hora e meia por dia e só não dá.
Não só quero como serei mais do que isso. Serei um coordenador. Cuidarei de todas as categorias, do infantil ao profissional. Claro que não irei comandar pessoalmente o treino do infantil, mas saberei como ele está sendo dado.
Teremos um gerente de futebol, o Marco Aurélio Cunha, para cuidar dos problemas dos jogadores.
Sugeri uma psicóloga para fazer um atendimento individualizado. Teremos um perfil do jogador do Santos, e procurarei manter todo mundo dentro do padrão ideal.
Folha - Qual é o papel do dirigente num clube de futebol?
Luxemburgo - A função do dirigente deve ser a de buscar recursos para viabilizar o empreendimento.
Folha - Como está a construção do centro de treinamento?
Luxemburgo - Até o dia 23, estaremos com vestiários prontos, o CT está ganhando corpo. O projeto é excelente, melhor até do que o do Palmeiras ou do São Paulo.
No Bragantino, tínhamos um departamento médico comparável ao do São Paulo. Não foi por nada que chegamos ao título paulista em 90. No Santos, a coisa não será diferente. Será uma completa reestruturação.
Folha - O que você tem dito aos jogadores nas preleções?
Luxemburgo - Quando passei pelo Bragantino, o time teve cinco jogadores na seleção. No Santos, pode ser ainda melhor.
Não somos trampolim para ninguém. Quem estiver pensando em jogar aqui para depois ir para Palmeiras, São Paulo ou Corinthians não serve para o Santos.
Quem sair do Santos tem de ir para a seleção ou a Europa. Não somos primos pobres. Somos o time de Pelé. O "Rei" venceu aqui.
Folha - Você é considerado um técnico disciplinador...
Luxemburgo - Exijo ordem, sim. Sei ser chato. Quero todo mundo arrumadinho, com camisa dentro da calça, uniformizado, representando bem o Santos.
Mas não sou radical, tenho bom senso. Como Santos é uma cidade quente, se os jogadores quiserem treinar com uma camisa regata do clube, podemos analisar.
Folha - E a volta do Telê Santana ao futebol?
Luxemburgo - Ótima para ele, um homem do futebol, que precisa do esporte para viver, e ótima para nós, que necessitamos das polêmicas do Telê.
Nós tivemos muitas divergências, mas foram divergências sadias. Eu o respeito muito e sei que ele me respeita também.

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