São Paulo, quinta-feira, 9 de janeiro de 1997
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O futebol brasileiro na era da globalização - 1

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, as previsões indicam que o setor de serviços tende a crescer mais e mais a sua fatia no rico -e mal distribuído- bolo da economia global.
Dentro desse amplo e variado setor, os futurólogos são otimistas em relação ao futuro da área de comunicações e lazer.
Como o esporte ocupa uma parte privilegiada e crescente nos negócios de entretenimento, essas análises estratégicas indicam que a esfera esportiva tende a movimentar uma massa de recursos em fase de grande expansão em escala global.
Nos EUA, por exemplo, há quem afirme que os negócios que giram em torno do esporte, naquele país, podem atingir até o volume de 5% do PIB (cifra exagerada, mas o que interessa é que a grana é grande).
No mundo da economia globalizada, nós aprendemos também pelos economistas que os países que sabem aproveitar as suas vantagens comparativas (facilidade de matéria-prima, salários mais baixos, vocação para a produção em determinado setor, menor custo de transporte, capacidade de produção com custos mais baixos etc) são os que conseguem melhores resultados.
Até agora, o Brasil tratou o futebol como algo romântico, espontâneo e ingênuo, mas nunca como um setor que pode gerar importantes ganhos financeiros e institucionais para a totalidade do país que considera esta modalidade esportiva como patrimônio público.
Para ficar no repertório linguístico dos economistas, a vantagem competitiva do país no setor esportivo -sua enorme capacidade de gerar recursos humanos qualificados para o futebol e de despertar interesse pela modalidade- vem sendo historicamente desperdiçada através de administrações despreparadas e desqualificadas para gerir adequadamente o negócio do futebol.
Quanto dinheiro movimenta o negócio do futebol no Brasil?
É impossível saber. As rendas das bilheterias são inconfiáveis. Os supostos contratos de patrocínio idem. Os contratos com as TVs idem. Os contratos com os jogadores não revelam a quantia real que eles receberão. A venda de jogadores -que poderia gerar uma razoável entrada de divisas para o país- é feita de maneira a evitar o pagamento de impostos. A Previdência é sonegada.
O futebol brasileiro, como um todo, não está conseguindo gerar dinheiro para seu custeio. O fato é óbvio, mas obscurecido pela fé cega e pela atomização dos interesses do torcedor -quase sempre um perdedor conformado-, pelos que se locupletam com a estrutura coronelista de clubes, federações e CBF, pela cumplicidade com a televisão e pela subserviência da imprensa esportiva em geral.
A modernização do futebol é igual à modernização do país. Ela requer uma redefinição de papéis, públicos e privados. Do jeito que está, o futebol será sempre fonte inesgotável de dinheiro (ilegal, por um lado, beneficiário da legislação arcaica e da falta de interesse do Estado, por outro) para poucos.
O Estado precisa reconhecer o valor estratégico do futebol, tanto do ponto de vista econômico, pois o futebol pode girar muito mais dinheiro do que movimenta hoje em dia, inclusive para o Tesouro, quanto do ponto de vista institucional.

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