São Paulo, quinta-feira, 9 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Criada vacina antimalária nos EUA

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

Descobertas realizadas por dois cientistas brasileiros viabilizaram a produção de uma vacina contra malária pelo governo americano.
Os testes em laboratório foram um sucesso, segundo pesquisa publicada na edição de hoje da mais importante revista médica dos EUA, "The New England Journal of Medicine". Funcionou em 85% dos voluntários, picados por cinco mosquitos infectados pelo mais mortal parasita da malária, o Plasmodium falciparum.
A vacina, batizada de RTS, vai agora ser testada na África, onde, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, 100 milhões contraem a malária anualmente. Cerca de 300 milhões de pessoas são infectadas por ano em 91 países. O mal mata 2 milhões por ano.
Os cientistas são o casal Victor e Ruth Nussenzweig, formados pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente são professores e chefes de departamento da Escola de Medicina da Universidade de Nova York. Por suas pesquisas, já tinham sido indicados ao Prêmio Nobel de Medicina nos anos 80.
Eles pesquisam a malária desde 1963, apostando que a resposta estaria numa proteína da "casca" do parasita que transmite a doença.
A partir desse princípio, o Instituto Walter Reed, do Exército dos EUA, e o laboratório Smithline Beecham, da Bélgica, aprimoraram o trabalho dos dois cientistas, ao desenvolver a vacina.
As Forças Armadas norte-americanas têm especial interesse na malária. É uma das principais ameaças aos seus soldados na Ásia ou África. Nada tirou tantos americanos de combate no Vietnã -nem as balas dos inimigos- como a malária. Mesmo fenômeno já havia sido verificado nas tropas que lutavam na Ásia na Segunda Guerra Mundial.
As vacinas lançadas até agora, inclusive pelo imunonologista colombiano Manuel Patarroyo, têm fracassado. Falharam por exemplo, na Gâmbia, na Tailândia e no Brasil. Os remédios ministrados a quem já está doente perdem efeito, a exemplo do que ocorre na Amazônia. O parasita está cada vez mais resistente.
Em novembro passado, em Baltimore (EUA), um dos responsáveis pela pesquisa no Instituto Walter Reed, o médico Ripley Ballou, informou numa conferência que, em breve, talvez tivesse boas notícias na luta contra a malária.
Ele acompanhava há seis meses voluntários picados no laboratório. Via que nenhum deles adoecia. Ao final, do total de sete, seis permaneceram saudáveis.
"Temos de ser cautelosos, foram obtidos resultados históricos", diz Ruth. "Apesar dos avanços, temos de ver como serão os resultados nos países vacinados."

Texto Anterior: Instituto especializado de Belém atende 40 doentes por dia
Próximo Texto: Conheça a história da pesquisa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.