São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 1997 |
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Clandestino diz que propina fura bloqueio Polícia rodoviária diz que afirmação é fantasia FABIO SCHIVARTCHE
A Folha conversou ontem com dez motoristas, que não quiseram se identificar temendo retaliações, que disseram subornar constantemente policiais nas rodovias do Estado que dão acesso aos balneários do Guarujá, Santos e São Sebastião. "Prefiro pagar a propina a dar dinheiro para as prefeituras, que estão cobrando um valor absurdo para os farofeiros irem à praia", diz A., 54, que trabalha há oito anos para uma empresa de turismo em São Paulo. Segundo ele, é "muito mais barato encarar o suborno do que pagar as taxas de licenciamento, seguro obrigatório do veículo, exame médico e outros impostos para deixar o veículo em ordem com a lei." Ele calcula que o gasto por "viagem legal" é de R$ 140. Com propina, no máximo R$ 30. A Prefeitura de Santos, por exemplo, estipulou esta semana uma taxa de 2.500 Ufirs (R$ 2.277) por ônibus, vans ou Kombis de turismo que queiram entrar no município. "É um assalto. Assim, ninguém vai querer ir à praia", afirma A. Segundo ele, para chegar a Bertioga os ônibus passam por três barreiras policiais. "Eu dou uns R$ 10 para os guardas e eles liberam a passagem", conta. Perseguição E., 34, que dirige um ônibus clandestino para o litoral nos finais de semana, afirma que se o motorista não pagar a propina os policiais fazem "perseguição". "Uma vez eu tentei ser correto e parar na barreira sem pagar o suborno, mas eles começaram a encontrar pequenos defeitos que não existiam e eu fui obrigado a aceitar a contravenção", diz. Nesses casos, o suborno é qualificado como corrupção passiva, crime previsto no artigo 317 do Código Penal, com pena que varia de um a oito anos de reclusão, além da aplicação de multa. Para o chefe de Comunicação Social da Polícia Rodoviária Estadual, Douglas Ávila, 38, "a cobrança de propina é fantasia dos motoristas." A assessoria de imprensa do DER (Departamento de Estradas de Rodagem) -órgão responsável pela concessão da autorização aos veículos que querem fazer o transporte intermunicipal de passageiros- informa que não comenta denúncias genéricas de corrupção. Os assessores dizem que é preciso apontar nomes e dados precisos da infração para que seja instaurado um inquérito administrativo interno. Texto Anterior: Indicações em praia são contraditórias Próximo Texto: Pitta altera fura-fila e o envia à Câmara Índice |
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