São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 1997
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Engraxate campeão

EDUARDO OHATA

Cus D'Amato, o falecido mentor de Mike Tyson, sempre foi um dos maiores admiradores de Beau Jack, campeão dos leves na década de 40.
Em uma era abençoada com grandes lutadores, como Henry Armstrong, Ike Williams e Bob Montgomery, entre outros, Jack também se destacava.
Qual não foi a surpresa de D'Amato, então empresário do bicampeão dos pesados Floyd Patterson, em 1961, ao ser abordado por um senhor que se oferecia para engraxar seus sapatos. "Vai uma graxa, doutor?"
D'Amato quase caiu de costas ao reconhecer aquele rosto. Não havia dúvida: era Beau Jack. Àquela altura, todo seu dinheiro, mal administrado, havia desaparecido. Polir sapatos era o único meio de sobrevivência.
D'Amato começou a relembrar as grandes atuações de Jack, quando este, subitamente, o interrompeu. "Mas e quanto à engraxada?"
Uma profunda sensação de tristeza tomou conta de D'Amato. Num misto de reverência e pena, Cus tomou-lhe o material das mãos, engraxou os sapatos do próprio Jack e o presenteou com uma nota de US$ 100,00.
A história de Beau Jack é bem comum. No esporte, não são poucos aqueles que, envolvidos em uma série de problemas, acabaram na miséria.
Todos esperavam que o supercampeão Julio César Chávez fosse uma exceção à regra.
Puro engano. O ex-campeão mundial corre o risco de se tornar outro Beau Jack.
Nos últimos meses, Chávez teve sérios problemas com o fisco mexicano por suposta sonegação de impostos. A dívida, segundo consta, é enorme.
Agora, o promotor de lutas Bob Arum se queixa de Chávez. Após pedir -e receber- um polpudo adiantamento, Chávez se recusa a cumprir o contrato. Arum pensa em processá-lo.
Alguém consegue imaginar algo pior que o ídolo Chávez terminando seus dias como um simples engraxate?

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