São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dona Felicidade é boteco decente

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

São Paulo tem pelo menos um bom motivo para invejar o Rio de Janeiro em matéria de comida. Não temos cá a maravilhosa oferta de botequins de lavra portuguesa (que eles chamam de pé-sujo) com petiscos e comida trivial, bons preços e dose dupla de descontração.
Em São Paulo -onde em compensação os portugueses ergueram uma tradição única de fartas padarias-, são poucos os botecos onde também a comida dá prazer. Há exatamente um mês, um deles abriu suas portas com o sorridente nome de Dona Felicidade, sugestão do dramaturgo Mario Prata, um dos seus muito habitués.
Este é na verdade o sucessor de um dos mais dignos botequins da cidade, o Pé Pra Fora, ainda aberto. É que seus fundadores venderam a casa no início do ano passado e só agora se instalaram no novo ponto, na Vila Romana.
A casa foi batizada com o nome da matriarca, dona Felicidade Conceição Bastos, portuguesa de 73 anos, no Brasil desde os 7. Ela e o marido, Manuel Bastos (já morto), tinham uma padaria na Pompéia desde 1969.
Dona Felicidade morava no andar de cima, cozinhava para a família e era assediada pela clientela que queria experimentar os pratos. A padaria foi virando botequim, servindo comida, e terminou conhecida como Pé Pra Fora.
Hoje ela e os filhos Antonio, 44 anos, e Sergio Bastos, 33, trocaram o apertado ponto anterior pelo enorme galpão de cem lugares onde estão agora. O crescimento no tamanho não afetou o charme, que estará definitivamente restaurado quando a varanda, já projetada, for aberta.
Dona Felicidade é um lugar para se beber impunemente e se comer decentemente. Começando pelo bolinho de bacalhau (mais crocante que as manjubinhas fritas) e prosseguindo com pedidos prosaicos como um bife à milanesa, ou pescados como atum e salmão.
A clientela adora os grelhados, preparados em brasa de carvão, como a chuleta (mas a picanha é levada à mesa numa chapa de ferro fumegante, que "frita" indevidamente parte das fatias).
E, somente no almoço, é hora da comida farta de botequim, preparada numa cozinha aberta e limpa: feijoada às quartas e sábados, virado à paulista na segunda e rabada na terça.
Na sexta-feira, o santo bacalhau, com todo o respeito.
(JM)

Texto Anterior: Neozelandeses chegam ao Brasil
Próximo Texto: Pior safra é a que mais vendeu no país
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.