São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 1997
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Visconti recria o mundo

MURILO GABRIELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O nobre siciliano vivido por Burt Lancaster em "O Leopardo" (Fox 14h) é um homem deslocado de seu tempo.
Fino, educado e vigoroso, assiste impotente e inatingível ao fim da sociedade em que se criou e à ascensão da burguesia italiana.
Assim também é Luchino Visconti, que guardou para sua obra-prima (premiada com a Palma de Ouro de Cannes 63) seu mais perfeito alter ego.
Em cada primoroso detalhe de "O Leopardo" o diretor italiano transborda sua saudade de um tempo de nobreza. Alijado de um mundo aristocrático do qual deveria ter sido herdeiro, tenta recriá-lo à perfeição.
Mas, assim como a personagem de Lancaster, Visconti não é um ingênuo. As rachaduras que por vezes aparecem nos palácios frequentados pelos nobres do filme são o reflexo exato do sorriso amargo que Salina esboça, mesmo quando parece ter adiado seu inevitável fim.
A célebre frase que diz que tudo deve mudar para que as coisas continuem iguais, mais do que uma verdade absoluta, parece encerrar um desejo desesperado.
Infelizmente, aquele que se julga onipotente o bastante para impor esse ritmo ao mundo, é onisciente o suficiente para não se iludir com a possibilidade.

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