São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Casca de uva e vinho previnem câncer

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem não costuma comer a casca das uvas, seja por não gostar do sabor ou por temer resíduos de agrotóxicos, tem agora um bom motivo para mudar o hábito alimentar: uma pesquisa divulgada hoje mostra que a casca da uva contém grande quantidade de uma substância com potente ação na prevenção do câncer.
Para quem ainda assim não quiser comer casca de uva, existe a opção de tomar seu suco, ou mesmo vinho, notadamente o tinto. Na fabricação do vinho tinto a casca da uva é mantida, ao contrário dos brancos, na qual ela é rapidamente retirada.
A boa notícia vai ainda mais longe. A substância, chamada resveratrol, mostrou ser capaz de agir nos três processos da carcinogênese -isto é, a iniciação, a promoção e a progessão do tumor, em testes em camundongos e em linhagens celulares em laboratório.
A equipe de doze pesquisadores liderada por John Pezzuto, da Universidade de Illinois em Chicago, EUA, lembra que o câncer é a principal causa isolada de morte, matando mais de seis milhões de pessoas por ano em todo o mundo.
Para eles, uma maneira de diminuir essa mortalidade é a "quimioprevenção" -a ingestão de agentes químicos que reduzem o risco de tumores.
O corpo humano pode ser entendido como um conjunto complexo de reações químicas. As substâncias "quimiopreventivas" interferem nessas reações, inibindo aquelas potencialmente nocivas.
Nos últimos anos, dizem ele, centenas de extratos de plantas foram avaliados por cientistas quanto ao seu potencial de inibir a ação de uma dessas substâncias com efeitos nocivos, a ciclooxigenase (sigla COX), que age no organismo estimulando o crescimento tumoral de células.
O resveratrol foi uma das substâncias encontradas capaz de inibir a COX. Foi achado primeiro em uma planta peruana. Depois se notou que ele era comum em uvas, notadamente a Vitis vinifera, usada na produção de vinho.
Os pesquisadores especulam que as uvas produzem o resveratrol como uma resposta natural a infecções por fungos.
Estudos de epidemiologia têm demonstrado o papel benéfico do consumo moderado de vinho na redução da mortalidade por doenças coronárias. É possível que parte disso seja resultado da ação do resveratrol, que tem efeito por exemplo em inibir a coagulação.
A equipe de Pezzuto não notou efeitos adversos do uso do resveratrol purificado nos camundongos testados. Eles concluem que a substância merece ser melhor investigada, mas sugerem que sucos não-alcoólicos e alimentos derivados de uvas devem ser consideradas fontes alternativas ao vinho, dados "os efeitos adversos na saúde a longo prazo do consumo de álcool".

Texto Anterior: Polícia estuda Sara Netanyahu
Próximo Texto: Governo ordenou volta, diz embaixador
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.