São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 1997
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No túnel do tempo

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Está lá, na página 1-6 da Folha de ontem: "Vamos repetir os cinco anos do Sarney".
Frase do deputado José Jorge (PE), presidente nacional do PFL, aludindo à blitz pela reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
Está lá, na capa da Folha: FHC segura a barriga de tanto rir, ao lado dos pefelistas Luís Eduardo Magalhães, Inocêncio de Oliveira e o já citado José Jorge.
Foram, todos, da turma dos cinco anos para Sarney.
Está lá, na capa do jornal "Gazeta Mercantil" de ontem: "Reeleição já custa dois ministérios".
Se for só isso, é até pouco. Sarney queria (e conseguiu) apenas 25% mais de mandato (cinco em vez de quatro anos). FHC quer o dobro (oito em vez de quatro). Pela lógica política brasileira, o custo, portanto, deveria ser quatro vezes maior.
Sobre os cinco anos de Sarney, meu ponto de vista pessoal foi exposto no dia seguinte à aprovação do novo período pelo Congresso constituinte. O título da coluna foi: "Uma obscena república bananeira".
Ironia: quem usou o qualificativo "república bananeira" foi um tucano (e banqueiro), o então deputado federal Ronaldo Cézar Coelho.
Continuo sendo a favor da reeleição, inclusive para FHC, por motivos que já foram expostos neste espaço.
Mas é assustador o paralelo que está sendo feito pelos próprios governistas, como José Jorge.
Ninguém sabe nem jamais saberá o que seria o Brasil se Sarney tivesse ficado apenas quatro anos e, portanto, a eleição presidencial tivesse ocorrido em 1988, em vez de 1989.
Mas o país inteiro sabe o que aconteceu pelo fato de a eleição ter ocorrido apenas em 1989. Aconteceu Fernando Collor de Mello, um desses desastres históricos que nem mesmo um país como o Brasil merecia.
Dizia Karl Marx que a história só se repete como farsa. Tomara que, pelo menos nisso, esteja certo.

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