São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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Estado é o maior farofeiro das praias

JUNIA NOGUEIRA DE SÁ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem mais contribui para a sujeira das praias não são os turistas de um dia nem a população flutuante que invade as cidades litorâneas a cada temporada. O culpado é o poder público -que não investe dinheiro, não regulamenta o uso e não fiscaliza o que acontece no litoral.
O caso mais emblemático deste verão é o do emissário submarino de esgoto localizado na praia da Enseada, no Guarujá (87 km de São Paulo). Construído em 1989, ele nunca funcionou como deveria e está vazando esgoto não-tratado desde 1991. A Sabesp abriu uma sindicância para apurar responsabilidades (leia texto na pág. 2).
O problema mais grave do litoral paulista é o mesmo de todo o litoral brasileiro: a falta de infra-estrutura. Seu reflexo mais evidente, a precariedade da rede de saneamento básico, é também a maior ameaça à saúde da população.
Ilhabela tem 0,3% das casas atendidas por rede de esgoto; Itanhaém tem 4,7%. O governo do Estado quer chegar a uma média de 85% até o final de 1998.
Em Santos, melhor índice da região, a rede chega a 91,9%. Isso não significa que quase todas as casas de Santos despejem esgoto na rede. Assim como Guarujá, São Vicente ou Praia Grande, Santos tem centenas, talvez milhares de ligações clandestinas de esgoto nos canais de águas pluviais.
Nem a Sabesp, responsável pelo saneamento básico no Estado, nem as prefeituras, que deveriam responder pela fiscalização das ligações, sabem avaliar o volume de poluição gerado por esses esgotos.
Os canais pluviais onde chega o esgoto clandestino -sem qualquer tratamento- desembocam diretamente na areia das praias. É daí que surgem as manchas escuras e malcheirosas com as quais o turista já se acostumou a conviver.
No litoral norte e em parte da Baixada Santista, o esgoto bruto das casas ou a parcela que as fossas sépticas não conseguem absorver (devido principalmente a problemas do solo) vai parar nos canais pluviais e nos rios, que são muitos.
Nos pontos em que esses rios e canais deságuam nas praias, as medições da Cetesb costumam indicar condições impróprias para banho. Dos 114 pontos de coleta de água no litoral, 51 são sistematicamente considerados impróprios pela Cetesb. Outros 40 ficam prejudicados na alta temporada.
"A situação do litoral, no que se refere a saneamento básico, é a pior de todo o Estado", reconhece o secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Hugo Marques da Rosa. "O litoral foi simplesmente abandonado pela Sabesp ao longo de sua história."
Para recuperar o tempo perdido, seriam necessários grandes investimentos no litoral. A Sabesp está colocando 15% de seu orçamento para obras na região desde 1995, o que correspondeu a R$ 117 milhões no ano passado.
Pode parecer muito, mas, diante do que precisa ser feito, seriam necessários cerca de dez anos, com esse ritmo de investimentos, para chegar a uma situação aceitável, dizem técnicos em saneamento.

LEIA MAIS sobre o litoral da pág. 2 à pág. 5

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