São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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Ouro Preto pede R$ 6 mi para se reerguer

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OURO PRETO

A cidade histórica de Ouro Preto, considerada pela Unesco patrimônio cultural da humanidade, precisa de R$ 6 milhões para recuperar os estragos provocados pelas chuvas do início do ano, segundo cálculos oficiais da prefeitura.
O vice-prefeito, Renan Guimarães (PPB), afirmou à Agência Folha que o município, cuja receita mensal é de R$ 1,75 milhão, não tem como arcar com as despesas.
Alguns prédios que são considerados monumentos históricos foram bastante afetados pelas fortes chuvas do início deste ano, que mataram 79 pessoas em Minas, e estão ameaçados pelo deslizamento de encostas de morros.
Na semana passada, foi criada uma comissão com representantes da prefeitura, da Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto) e Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para acompanhar a situação dos monumentos históricos ameaçados.
Para o vice-prefeito, Ouro Preto terá de recorrer aos governos estadual e federal e à Unesco.
Estragos
Encostas do morro localizado atrás da igreja de São Francisco de Assis, considerada a obra-prima de Aleijadinho, ainda estão deslizando alguns centímetros.
O geólogo Wilson Guerra, da Ufop, afirma que isso é um sinal visível de que as camadas subterrâneas estão se movimentando e deixando as encostas mais frágeis.
As fortes chuvas que atingiram a cidade em 1979 provocaram o desmoronamento do cemitério, a 10 m da igreja. Ali, naquela época, foi construído um muro de contenção, mas, segundo Guerra, é necessário um muro novo.
A coordenadora do Iphan em Minas, Cláudia Freire Lage, diz que a comissão está preparando um laudo técnico sobre a igreja.
"A integridade física da igreja não foi atingida até agora. A área tem sensores cujas reações são acompanhadas por consultores especializados", afirma.
Ocupação
Segundo Lage, a maior ameaça aos monumentos históricos de Ouro Preto na época das chuvas é a construção irregular de casas nas encostas que rodeiam o centro histórico, que aumenta o peso sobre o terreno e influi na drenagem natural das águas das chuvas.
Outra encosta com risco de deslizamento ameaça a Santa Casa de Ouro Preto, localizada onde funcionava o quartel da Cavalaria Imperial.
A capela de Nossa Senhora das Dores, construída em 1786, também está ameaçada por deslizamentos de encostas e ainda sofre infiltração.
Segundo a prefeitura, seria necessário remover pelo menos 10 mil pessoas das encostas. "Teríamos de construir uma nova Ouro Preto", afirma o vice-prefeito.
Tráfego pesado
A Prefeitura de Ouro Preto prevê que sejam necessários R$ 2,2 milhões para recuperar o acesso rodoviário da cidade, que teve um aterro rompido pelas águas da chuva, atingindo três bairros antigos e destruindo cinco casarões.
Com a interrupção do acesso, o tráfego pesado de caminhões e ônibus foi desviado para o centro histórico da cidade, ameaçando sua conservação.
O aumento do trânsito na cidade vem abalando a ponte dos Suspiros, localizada no bairro Antônio Dias e que teria servido de inspiração para o poeta inconfidente Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) escrever sua liras à musa Marília de Dirceu.
O geólogo Guerra disse que nos últimos dias surgiram rachaduras na ponte, construída em meados do século.

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