São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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Solidariedade enche caminhões de comida

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS (RJ)

Todos os dias durante esta semana três pequenos caminhões viajavam 60 km por estradas de terra cobertas por lamaçais para levar comida à população desabrigada de Cardoso Moreira (município a 320 km do Rio).
A iniciativa de encher o caminhão com mantimentos não partiu de prefeituras, do governo do Estado ou de algum ministério.
Quem botou a comida na carroceria do caminhão foi a população humilde de São Joaquim, Vila Pinheiro, Morro do Côco e Valão dos Pires, lugarejos perdidos no emaranhado de estradas vicinais que cortam os municípios das regiões norte e noroeste do Estado.
A solidariedade foi uma das marcas da calamidade que se abateu esta semana sobre as populações mais miseráveis do Estado.
Oito municípios fluminenses decretaram estado de calamidade pública: Itaperuna, Italva, Cardoso Moreira, Bom Jesus de Itabapoana, Laje do Muriaé, Porciúncula, Natividade e Varre-Sai.
Com 11 mil habitantes, Cardoso Moreira enfrentou a pior cheia de sua história. A cidade teve 100% da área urbana alagada, conforme relatório da Defesa Civil do Estado.
Pelo menos 10 mil moradores do município tiveram de sair de casa. Sem comida e água potável, os habitantes de Cardoso Moreira se valeram da solidariedade.
Os três caminhões que chegavam à cidade levavam, cada um, mil pães, galões de água, velas, fósforos, biscoitos, arroz, feijão, macarrão, leite e até galinhas vivas.
Coube ao vendeiro Sildo Rodrigues de Lemos, 61, a iniciativa de incentivar os vizinhos a ajudar Cardoso Moreira. Em pouco tempo, as doações se acumularam.
O lavrador José Ribeiro, 50, chegou a doar toda a produção de milho que já estava encomendada por um cliente. "O dinheiro nesses casos fica em segundo lugar."
Em Campos (a 280 km do Rio, maior município da região), a cheia do Paraíba do Sul inundou o terreno onde Américo Ramos da Silva, 40, plantava feijão.
Silva aproveitou a enchente para pescar. Com uma rede, recolheu centenas de pequenos peixes. O produto da pesca foi distribuído entre os desabrigados de vários lugarejos de Campos.
Com água pela cintura, Silva percorria as áreas alagadas com os peixes dentro de sacos amarrados às costas. "Quem tem fome precisa comer. O que eu ia fazer com os peixinhos no meu quintal?"
Cerca de 60 toneladas de mantimentos doados estão sendo distribuídas pela Defesa Civil, polícia, bombeiros, Exército, Marinha, prefeituras e voluntários. As doações chegam às cidades ilhadas de helicóptero.

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