São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mulheres desprezam "aleijões afetivos"

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Será que eu estou namorando? A pergunta não atormenta mais essas mulheres. Cansadas dos "aleijões afetivos" (homens que não expõem sentimentos nem assumem relacionamentos), elas agora querem namoro com compromisso.
"Passei tanto tempo agindo de acordo com uma espécie de etiqueta do namoro moderno que já não me lembrava mais como é estar apaixonada de verdade", diz a relações-públicas Selma Barbosa Lima, 37, que há um mês está namorando o empresário-surfista Guto Ramenzoni, 26.
"Agora posso dizer que tenho um namorado", diz. "Não é fácil achar um cara que nos deixe à vontade para agir como mulher."
Ela acredita que a maioria dos homens, hoje, espera reações masculinas das moças.
"Se você chora ou diz que tem saudades, torna-se inconveniente", diz. "Eles querem que o namoro seja um eterno videoclipe."
Selma conta que, depois que conheceu Ramenzoni, parou de medir suas próprias atitudes.
"Ele adora que eu ligue sempre que estou com vontade, presta atenção em tudo o que eu falo e não reprime meus ataques de mulherzinha", diz. "Se eu quero miar na cama, mio, e tudo bem."
Antes só
O "príncipe encantado" de Selma bateu na porta dela (leia depoimento ao lado), mas nem todas as mulheres têm a mesma sorte.
"Estou sozinha, mas antes assim", diz a produtora de moda Maria Lúcia dos Reis, 28.
Maria Lúcia é uma que, há algum tempo, não saberia responder se estava ou não namorando.
"Eu saía com um cara que só me ligava eventualmente, não queria ouvir cobrança e nunca me deu garantia de nada", diz.
Ela lembra que não podia contar com o "namorado" para ir a lugar nenhum. Se ele ia, era pior.
"Nas raras vezes em que ele me acompanhou em festas, eu não sabia como apresentá-lo para as pessoas. Tinha até vergonha", conta.
Ela só soube que de fato era um namoro quando tudo terminou. "E, mesmo assim, quem me disse foi o irmão dele, que é homossexual e virou meu confidente", diz.
Maria Lúcia colocou um ponto final na história quando soube que o "namorado" tinha engravidado outra mulher. "A família da menina o obrigou a casar com ela, mas não adiantou nada", conta. "Durou só dois anos."
Ele voltou a ligar para Maria Lúcia. "Está cheio de homens como ele por aí, mas eu agora quero alguém que me assuma."
Namorado convertido
A financista Andréa Braga, 36, não tem a paciência de Maria Lúcia. Em vez de esperar alguém que a assuma, ela prefere fazer o que chama de "conversão".
"O segredo é tratar o 'aleijão afetivo' com desprezo", diz. "Ele fica curado rapidinho."
Atualmente, Andréa está se relacionando com um sujeito que já deixou de ser "aleijão afetivo".
"No começo, há um ano, eu tinha de sair da sala quando ele ia ouvir os recados na secretária eletrônica", diz. "Eram todos de mulher, e ele não tinha a menor consideração comigo (nem com elas)."
"Hoje, ele me liga da rua para me dar satisfações e, pela primeira vez em todo esse tempo, acabamos de passar uma semana juntos."
Andréa levou o convertido para passar o réveillon no Rio. "Ele voltou ainda mais apaixonado."
O detalhe mais empolgante da história, segundo Andréa, é que ela também não dá garantias. "É como um mergulho no escuro para os dois", diz. "Talvez por isso ele esteja tão envolvido."

Texto Anterior: Prejuízo não é calculado
Próximo Texto: DEPOIMENTO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.