São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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"Courrier" sofistica trabalho do motoboy

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Nosso banco não tem boy, tem 'courrier'." Quem não se lembra dessa propaganda? A frase é uma tentativa de enobrecer a profissão de motoboy, mensageiro ou simplesmente motoqueiro.
O fato é que esse personagem, terror do trânsito das grandes cidades, ganha cada vez mais mercado, graças a esse mesmo trânsito.
"'Courrier' é mais do que uma profissão. É um conceito", afirma José Ricardo Quintana, 38, diretor-geral do Banco 1.
"Trata-se de um portador motorizado, que segue uma série de políticas e passa por um treinamento bem específico", explica.
Além de usar moto, como qualquer mensageiro, ele se veste de uma forma particular e carrega um kit com tudo o que for preciso para um atendimento personalizado.
Exemplo: leva consigo uma tesoura para abrir, na frente do destinatário, a encomenda para a conferência da mercadoria.
"É um conjunto de aspectos que vai da pessoa e da moto até o processo de treinamento, que ensina como se portar de forma diferenciada", diz o diretor.
Mas, afinal, qual é a diferença entre o "courrier" e o motoboy? Nem ele sabe responder. "Não há muita diferença entre os profissionais. O que difere é o conceito."
"Na propaganda, eles mostram uma moto bonita, mas não é nada daquilo", alfineta Antonio Carlos de Lima, 38, dono da ABK Transportes, do bairro do Tatuapé (zona leste de São Paulo).
A maioria é autônoma e recebe em média um salário de R$ 600 por oito horas de trabalho.
Não é raro acumular vários empregos para engordar a renda mensal -que pode chegar a algo entre R$ 1.200 e R$ 1.600.
Além do trânsito complicado, o que impulsiona a profissão é o desemprego. "Muitos resolver comprar uma moto e trabalhar por conta própria", diz Lima.
"Nesse contexto, o 'courrier' é um motoboy de luxo."
Mas a profissão também é, segundo profissionais do setor, curta e perigosa -a média de permanência, dizem, é de dois anos.
A rotatividade é outro problema, pois há um grande investimento em treinamento.
"O 'courrier' nada mais é do que um artifício para fazer uma diferenciação no mercado", diz Erasmo Fermino, 29, gerente da Moto-Cargo, do Bom Retiro (região central de São Paulo).
"Mas, onde eles existem, trata-se realmente de um motoboy mais sofisticado." Algumas dessas sofisticações já estão sendo adotadas pelas empresas.
Por exemplo, nas grandes transportadoras, todos já trabalham com pager (aparelho receptor de mensagens).

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