São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
Próximo Texto | Índice

Mulher caminha para dominar EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Faz apenas 76 anos que as mulheres conquistaram o direito de votar nos EUA. Elas são cidadãs plenas há apenas três gerações e sua condição de "segundo sexo", conforme teorizada em 1949 por Simone de Beauvoir, já começa a ser posta em dúvida.
A revista anglo-americana "The Economist", uma das mais sensíveis publicações do mundo para detectar tendências culturais, anunciou que o "segundo sexo de amanhã" é o masculino e que os sinais estão evidentes nas sociedades dos EUA e Europa ocidental.
'Feminização'
A "feminização" da política norte-americana é ostensiva. Foi o eleitorado feminino quem reelegeu o presidente Bill Clinton e nunca tantas mulheres estiveram em cargos de relevo nos três poderes da república.
A passagem dos homens para a defensiva é também evidente. São eles quem agora se organizam em passeatas e associações para defender os seus direitos.
Pode ser que, como ironizava o sambista brasileiro Sinhô há 70 anos ("gosto que me enrosco de ouvir dizer que a parte mais fraca é a mulher"), a mulher nunca tenha sido segundo sexo nenhum. Mas, se antes ela ocultava seu domínio na aparência de submissão, agora parece ter decidido partir para a ofensiva sem disfarces.
No cinema, cineastas mulheres e homens fazem apologias frequentes do feminismo ("The First Wives' Club", "Waiting to Exhale", "Antonia's Line", "The American Quilt" e muitos outros). Na televisão, mulheres ocupam os lugares de grandes ídolos (Oprah, Roseanne, Cybill, Ellen).
As mulheres já são a maioria do eleitorado e dos estudantes universitários e caminham para ser a maioria das pessoas empregadas, já que elas cada vez mais disputam os "trabalhos de homem" e os "trabalhos de mulher" (do ensino à ciência) são cada vez mais indispensáveis.
As meninas têm desempenho escolar muito melhor do que os meninos. Há muito menos mulheres do que homens nas cadeias e as qualidades femininas (intuição, sensibilidade) estão sendo culturalmente valorizadas mais do que as características masculinas (agressividade, força).
Insatisfação
As líderes feministas continuam insatisfeitas. Afinal, o salário médio das mulheres ainda é inferior ao dos homens, a maioria dos cargos de chefia em empresas e no governo se mantém nas mãos de homens, o trabalho doméstico é feito em sua maior parte por elas.
Não há dúvida de que é uma questão de tempo (e pouco tempo) para que toda essa situação se altere ainda mais. Quanto mais as mulheres tomarem decisões econômicas e políticas independentes dos homens, maior será o seu poder efetivo na sociedade.
Isso já está ocorrendo. Por exemplo: em 1996, metade dos carros vendidos nos EUA foram comprados por mulheres, e 75% das decisões no setor de saúde (compra de medicamentos, escolha de médicos, planos de saúde e hospitais) são tomadas por elas.

Próximo Texto: A fórmula científica da mediocridade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.