São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nem demofobia, nem demagogia

EDUARDO AZEREDO

Já há algum tempo as instituições brasileiras têm funcionado dentro da normalidade e eficiência que a sociedade exige. Em Minas Gerais, isso não é diferente. Temos no Estado uma estrutura governamental integrada, com cada um de seus níveis liderado por pessoas corretas, competentes e sintonizadas com a linha político-administrativa definida pelo chefe do Executivo estadual.
Assim é que, como em todo o mundo civilizado, quando o titular do governo do Estado justificadamente tem que se afastar, o governo não fica acéfalo, mas entregue, responsavelmente e como determina a Constituição Estadual, aos substitutos legais do governador.
O Brasil precisa conscientizar-se de que um governo moderno não está totalmente calcado na figura do chefe do Executivo. Existe uma estrutura governamental que deve funcionar bem e, embora baseada nas determinações do governador, atua rotineiramente dentro da delegação de funções de cada nível.
Não existe o governante "super-homem", capaz de dirigir sozinho todo um Estado. Seguramente não sou esse "super-homem". Tenho como princípio trabalhar em equipe e escolho sempre com muito critério meus auxiliares.
Foi com base nessas premissas que decidi, após dois anos de trabalho, usar menos de 15 dias para um descanso junto à minha família, o que julgo normal e necessário até mesmo para o bom desempenho de meu papel como chefe de Estado.
Em meu lugar deixei o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Agostinho Patrus, uma pessoa de minha estrita confiança, um profundo conhecedor de nosso Estado e de reconhecida competência político-administrativa. Além do mais, secretarias e órgãos do governo estadual achavam-se todos funcionando dentro da normalidade, o que garantiu o suporte necessário para que o governador em exercício atuasse com tranquilidade.
Uma marca que sempre procurei colocar em minha vida pública é a luta contra a demagogia. Neste recente episódio, tentaram me imputar uma "demofobia". Nada mais falso. Não pode ser considerado "demófobo" quem, como prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas Gerais, marca suas administrações pela total priorização das áreas sociais, como a educação e a saúde, e vem promovendo uma importante redistribuição de receita em benefício dos municípios mais carentes do Estado, com o projeto Robin Hood.
O que não é característica minha é criar fatos para pura e simplesmente chamar a atenção, agindo em função das aparências. Atitudes típicas do comportamento demagógico. O poder moderno tem que se despir cada vez mais de simbolismos, aparências demagógicas e ritos supérfluos ou superficiais, assumindo cada vez mais a simplicidade e eficiência da ação administrativa. O administrador moderno deve procurar desfazer-se de efeitos e sinais enganosos para agir concretamente em benefício da população: ser um governante-cidadão e não um governante-monarca ou um governante-marketeiro.
Minha preocupação constante é a busca das soluções para os problemas que o Estado e sua população enfrentam, tentando resolvê-los na origem. Por isso considero que as críticas grosseiras e desrespeitosas feitas a mim são fruto de quem não conhece minha vida pessoal e política em Minas Gerais. Os fatos reais que se passaram em Minas respondem sem dúvida às desinformações, intrigas e proveitos oportunistas que deles tiraram, distorcendo-os, alguns analistas.
A escolha da data de meu descanso foi definida por ser o início do ano um período em que rotineiramente existe uma maior tranquilidade administrativa. Quando deixei o Estado, não existia qualquer sinal de que as chuvas se intensificariam, chegando a causar danos maiores ao Estado e à nossa população.
Foi súbita a mudança da situação, com o aumento e a concentração atípicos das chuvas e a multiplicação das vítimas -nossas maiores e irreparáveis perdas. Assim que ficou claro que a situação agravava-se, decidi pela antecipação de meu retorno.
Meu substituto legal, prontamente, já havia tomado as medidas necessárias, colocando órgãos estaduais em plantão permanente, mobilizando 38 mil homens da Polícia Militar, promovendo avaliação dos danos e liberando recursos para o socorro às vítimas e o apoio necessário às autoridades municipais.
Durante todo o tempo, mantive permanente contato com a equipe do governo mineiro, definindo com ela ações que deveriam ser implementadas para minimizar o impacto do drama vivido por muitos mineiros.
Não tomaria qualquer medida diferente daquelas que o governador em exercício tomou. E todas elas, com meu retorno, receberam a continuidade necessária. O governo federal, por meio de determinação do presidente Fernando Henrique Cardoso, agilizou o apoio pedido pelo Estado, liberou recursos, e os ministros da Saúde e de Políticas Regionais estiveram em Minas para avaliar "in loco" e juntamente com as autoridades estaduais a situação das regiões mais atingidas pelas chuvas.
A situação em Minas, mesmo antes de minha chegada, estava controlada e a caminho da normalidade. A população atingida pela chuva recebeu e está recebendo o apoio e a solidariedade que esperava e era dever do poder público mineiro garantir-lhe.
O lamentável é que a força das águas, numa fatalidade, tenha se manifestado com tanto rigor e velocidade sobre Minas Gerais, causando danos agravados, sobretudo, por alterações do meio ambiente acumuladas durante os anos, como a ocupação irregular de encostas e o assoreamento dos rios.

Texto Anterior: INEDITISMO; PRODUTIVIDADE
Próximo Texto: Mandela, FHC e a reeleição
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.