São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997 |
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Mandela, FHC e a reeleição
EDUARDO MATARAZZO SUPLICY Ao retribuir a visita de Nelson Mandela, que esteve presente em sua posse, o presidente Fernando Henrique Cardoso pôde constatar pessoalmente as razões pelas quais o presidente da África do Sul é hoje um dos maiores estadistas vivos. É extraordinariamente respeitado, tanto em seu país quanto em todo o mundo, por ter dedicado inteiramente a sua vida a libertar o seu povo do apartheid e à criação de uma sociedade justa.Não sei exatamente o teor da conversa que ambos tiveram privadamente em Pretória, em novembro. Mas, se o nosso presidente tiver tido o interesse de perguntar a Mandela sobre sua opinião relativa à reeleição, terá, ou teria, ouvido algo de grande relevância. Acabo de visitar a África do Sul, onde ouvi o senador Zimasile Wilton Mkwayi, do Congresso Nacional Africano, partido do qual Mandela é o presidente, sobre a decisão por este tomada quanto à possibilidade de sua reeleição. Mkwayi é um dos senadores com quem tem maior afinidade. Por 26 anos, foram companheiros de prisão na ilha Robben. A constituição da África do Sul, promulgada em 10/12/96, explicita, em seu artigo 88, parágrafo 2º, que nenhuma pessoa pode exercer a presidência por mais do que dois termos. Portanto, é permitida uma reeleição. Contou o senador Mkwayi que ele e alguns senadores do CNA estavam considerando a hipótese de Mandela, que foi eleito com 80% dos votos e que continua muito querido, ser novamente candidato em 1999, quando termina o seu mandato de cinco anos. Imaginaram, considerando que Mandela estará então com 80 anos, que poderia exercer a presidência por um período aproximado de um ano, quando então renunciaria em favor do vice-presidente, que seria de sua total confiança. Mandela chamou Mkwayi para uma conversa, em que disse ter pensado muito a respeito. Lembrou que muitos presidentes e chefes de Estado, em outros países africanos, haviam feito de tudo para permanecer no poder, vindo depois, em função dessas ações, a se desgastar. Disse, assertivamente, que preferia concluir o seu mandato com o povo querendo muito que ele continuasse. Em outubro de 1996, Mandela anunciou publicamente que em dezembro de 1997 deixará o seu cargo de presidente do CNA. E que em 1999 concluirá o seu mandato de presidente da República, não se candidatando à reeleição. Perguntei, então, à senadora Tembeka Gamndana, também do CNA, se achava que havia pessoas capazes de suceder Mandela e realizar um bom trabalho. Ela respondeu que conhecia pelo menos cinco pessoas na África do Sul que poderiam exercer a presidência tão bem e até melhor do que Nelson Mandela. Temos muito o que aprender uns com os outros. O presidente Fernando Henrique deveria ouvir com mais atenção as reflexões de Mandela do que as de Menem ou Fujimori. Texto Anterior: Nem demofobia, nem demagogia Próximo Texto: Praias proibidas; IPVA; Maquiagem; A culpa das universidades; Preocupação ecológica; Rotina; Inversão da ordem; Carta anti-semita; Boas festas Índice |
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