São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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Embalos de uma noite de verão

POR ADRIANA VIEIRA

ADRIANA VIEIRA
FOTOS MUJICA

O sol já se pôs e a maré está alta, mas a diversão está apenas começando no litoral paulista. De Santos a Ubatuba, há novas e diferentes opções para aproveitar a noite neste verão, que atraem desde surfistas e mauricinhos até o público GLS (gays, lésbicas e simpatizantes).
A grande badalação se concentra em Maresias, em São Sebastião, onde está a nova parceria Cabral Sirena, e no Guarujá, com a boate Phoenix, na praia da Enseada.
Essa onda de novos bares e casas noturnas que invade as praias todas as temporadas trouxe também neste ano a casa 180 Graus para Ubatuba, a versão santista do Massivo e uma reforma para o Galeão, de Camburi.
Cada uma dessas casas procura uma forma de cativar cada vez mais seu público. Por isso, o Sirena, que existe há três anos no litoral, e o Cabral, que antes tinha sua filial litorânea no Guarujá, resolveram se unir.
"O público de Maresias tem o mesmo perfil do Cabral. É um pessoal jovem que sai durante a semana em São Paulo e vem para a praia nos fins-de-semana, mas não abre mão de curtir a noite", diz Eduardo Grinberg, um dos nove sócios da casa.
Maresias
Aberto em outubro, o Cabral Sirena foi reformado e redecorado por João Armentano, ganhando um estilo mais de boate.
As laterais da pista de dança foram fechadas, e uma sala vip para recepcionar convidados especiais foi criada no mezanino. Além disso, a casa conta agora com uma filial do restaurante japonês Kosushi e da tortaria Le Moussier.
Cercada por muitas árvores e mata, o clima praiano-descontraído do Cabral Sirena também está nas cores fortes, como o amarelo mostarda das paredes. Na parte de trás, ao ar livre, além de decks com mesas e sofás, há dois bares com cobertura de sapé.
O som? Nada de axé music. O DJ Nilsson toca reggae, rock nacional e internacional, pouco dance e muito techno. "Queremos trazer as tendências sonoras da Europa e dos EUA. E tenho percebido que a moçada está entendendo e gostando do techno", diz o DJ.
Os frequentadores do Cabral Sirena têm até o dia-a-dia parecido no verão. O tenista Vitor Martins, 22, é um deles. Adora acordar lá pelas 14h, ficar até tarde na praia e sair todas as noites, sempre com o seu automóvel Eclipse. "É essa agitação que é legal nas férias", diz Martins.
No entanto, Eduardo Grinberg garante que a casa também atrai outras tribos, além dos mauricinhos e patricinhas.
"A nossa intenção é criar uma espécie de Punta del Leste. Uma praia perto da cidade onde tenha uma grande badalação noturna e onde as pessoas se reúnam", conclui Grinberg. Como é uma casa sazonal, o Cabral Sirena só dura até o final de abril.
À beira-mar
Quem não se encaixa no perfil do Cabral Sirena tem ainda duas opções em Maresias. O Shaolin e o Bar do Meio, antigos conhecidos de quem frequenta o litoral norte, ainda mantêm as mesmas características: mesinhas à beira-mar, público surfista adolescente e todos os tipos de música para dançar.
O Shaolin abriu suas portas no final da década de 80, quando ninguém imaginava que a região iria se tornar tão badalada, para reunir os surfistas.
Passaram-se os anos, o bar continua com a mesma estrutura precária. Atrai sobretudo os adolescentes porque não cobra entrada nem consumação mínima e ainda oferece todos os dias música -reggae, axé e rock. E tem mais: funciona 24 horas por dia no verão.
Já o Bar do Meio é um intermediário entre o Shaolin e o Cabral Sirena. Fica na praia, mas cobra entrada e tem sete ambientes, incluindo uma pista de dança fechada, um restaurante, uma sorveteria, um surf shopping e uma sala de jogos.
"Há quatro anos, quando abrimos o Bar do Meio, era mais uma opção de ponto de surfista. Com a explosão de Maresias, tivemos de reformar e ampliar. Hoje, é uma espécie de sport bar", explica o sócio do bar Carlos Orsini.
Guarujá
Situada no mesmo local onde estava o Cabral na temporada passada, dentro do Casa Grande Hotel do Guarujá, a Phoenix tem perfil semelhante ao da boate de Maresias. Por ser filial de uma casa noturna da Vila Olímpia, em São Paulo, atrai o mesmo tipo de público.
Sua diferença é que não terminará com o verão. Na segunda quinzena de fevereiro, a casa fecha para uma grande reforma e volta em novembro, prometendo ficar aberta todos os finais de semana por pelo menos cinco anos consecutivos.
"Fomos um dos pioneiros a investir em casas noturnas no litoral. Não é a primeira vez que há essa parceira entre o Phoenix e o Casa Grande. Já fizemos isso no verão de 93, de 94 e de 95", conta Christiano Ruiz, um dos proprietários.
Para esta temporada, o Phoenix Guarujá recebeu uma decoração seguindo o estilo colonial do hotel, o que o diferencia da matriz.
Dentro da boate, há réplicas de varandas, e quatro palmeiras cercam a pista de dança que fica no centro da casa.
A Phoenix dispõe ainda de dois mezaninos, uma sala vip, um restaurante japonês e dois bares internos e um externo, localizado num quiosque em estilo caribenho. A casa abriga em média 2.000 frequentadores.
Outro destaque no Guarujá é o bar e restaurante Tahiti, que funciona 24 horas por dia durante o verão.
Situado há quatro anos no calçadão da praia de Pitangueiras, próximo ao Morro do Maluf, esse bar é frequentado por todas as tribos.
Segundo a gerente da casa, Jandira Maria de Oliveira, passam por lá todos os dias cerca de 3.000 pessoas na temporada. "Durante o dia, são as famílias e os casais que vêm almoçar. À noite, é a vez dos adolescentes invadirem o Tahiti para ouvir música ou brincar nas máquinas de fliperama", diz Jandira.
Tem de tudo no Tahiti: restaurante, bar, lanchonete, sorveteria e, a partir deste verão, também um quiosque da Le Moussier, que, aliás, parece ter invadido todo o litoral de São Paulo. O som vem do jukeboxe e há ainda televisores com clipes de esportes espalhados pela casa.
O Tahiti já chegou até à Internet. A casa participa da home page Câmera Surf (www.camerasurf.com), enviando imagens simultâneas da praia de Pitangueiras para informar os surfistas de todo o mundo.
Ubatuba
Longe do circuito Maresias-Guarujá, mas com estilo parecido, encontra-se a novidade de Ubatuba: o 180 Graus, que fica no morro Curuçu-Mirim, próximo ao centro da cidade.
Essa casa é mais um grande complexo de lazer, com 10 mil m2, do que uma boate. Lembra até o cenário da "Ilha da Fantasia".
O nome é em referência à vista de 180 graus do mar que o local proporciona. Segundo os proprietários, César Ribeiro do Val e Eduardo Leite, houve também uma grande preocupação em preservar parte da Mata Atlântica do morro.
Dessa forma, a maior parte dos ambientes fica ao ar livre rodeados de vegetação, inclusive a pista de dança, com cobertura de sapé, laterais abertas, uma piscina ao lado -que não pode ser usada pelos frequentadores- e um telão.
Com capacidade para 2.000 pessoas, a casa tem ainda um restaurante, um sushi-bar, um pizza-bar e uma lojinha de surf wear.
O som do 180 Graus é mais variado, rola desde axé music, reggae e dance até shows com bandas da região.
Também não é uma casa sazonal. Para manter o lugar lotado e recuperar o US$ 1,3 milhão investido, os proprietários contam com os moradores locais e das cidades do Vale do Paraíba e confessam que já têm um projeto de transformar o espaço em um spa fora das temporadas.
Menos sofisticada e bem menor do que o 180 Graus, o Baruba, uma casa para 300 pessoas que existe há quatro anos na avenida da praia, é mais um ponto de encontro noturno em Ubatuba.
Com um público muito jovem, que não passa dos 20 anos, fica mais lotada na sua fachada do que propriamente no seu interior.
A intenção do Baruba era oferecer músicas africanas e reggae, no entanto, está tocando mais o que os frequentadores exigem: axé-music e dance.
Também nessa linha e com o mesmo público, há ainda em Ubatuba, o Pica-Pau, um barzinho na praia do Lázaro mais precário ainda do que o Shaolin, de Maresias. Durante o verão, é improvisado um palco no bar para shows de bandas da região.
"É bom vir aqui porque é descontraído, sem frescuras, dá para dançar descalço na areia", diz a estudante Christiana Beni, 17, que frequenta o Pica-Pau diariamente nas férias.
Infelizmente, a diversão "sem frescuras" à beira-mar, oferecida por casas como o Pica-Pau e o Shaolin, acabam por deixar as praias ainda mais sujas. No final da noite, a areia fica coberta de papéis e latas e garrafas de cerveja. Os proprietários, contudo, dizem que promovem limpezas nas madrugadas, o que alguns banhistas não confirmam.
Fora da badalação
Para quem não gosta de badalação, o Galeão na praia de Camburi é o lugar certo. Os frequentadores de lá se auto-intitulam "low-profile".
Seu público é um pouco mais velho, acima dos 25 anos, composto principalmente por artistas. A escultura Renata Barcelos, 27, explica a preferência: "O som é muito bom. Toca rock, muito funk e música brasileira".
Com decoração inspirada num navio pirata chamado Galeão -a área externa é coberta por velas de barco-, a casa surgiu há dois anos como um bar. No final do ano passado, teve de ser ampliada para atender a demanda.
"Tanto as pessoas que moram na região quanto as que vêm passar as férias pedem casas noturnas. Quando o Galeão era apenas um bar, os clientes arrastavam as mesas para dançar", diz Cristina Albuquerque, uma das sócias.
A praia de Boiçucanga, depois de Camburi, também conta com uma opção noturna para esta temporada. Dos mesmos proprietários da Pousada da Barra, a Vitória Régia é um espaço mais simples, com dois ambientes para 400 pessoas.
Baixada Santista
Com todas essas opções, quem ainda não se encontrou e procura um lugar ainda mais alternativo para se divertir deve se dirigir ao litoral sul, onde foi inaugurada uma filial do Clube Massivo, na Ilha Porchat, em Santos.
O local abriu suas portas em novembro e mantém o mesmo estilo da matriz em São Paulo, com um público mix (hetero e homossexuais), só que com alguns toques tropicais.
Fica situado num porão, mas é mais amplo, com capacidade para 900 pessoas. Tem as duas famosas gaiolas e também uma área externa com vista para o mar.
Comandado pelo DJ Alexandre Couto, o som predominante é o "underground" e o "garage". "Às vezes, temos que satisfazer o gosto do público daqui. Já tivemos que tocar, por exemplo, Rick Martin", conta a gerente do Massivo, Calu Blancas.
Como acontece às quintas-feiras no Massivo de São Paulo, o de Santos terá todas as sextas-feiras uma festa temática, como a "Summer", quando a casa fica decorada com bóias e pranchas.
Os proprietários esperam recuperar o investimento de R$ 80 mil só neste verão. "Na praia, a casa noturna não precisa ser muito luxuosa, mesmo sendo um projeto como o nosso que é permanente, para o ano inteiro. Além disso, essa cidade oferece muita demanda, porque há uma grande população e muitos turistas", conclui o proprietário Valmir Pinto de Barros.
Reggae
Não é de hoje que Santos abriga filiais de casas noturnas de São Paulo. Em 1995, foi inaugurada a Reggae Night na cidade, acomodando nada mais nada menos do que 5.000 pessoas. A casa ficou famosa principalmente pelos shows que promove.
Já estiveram por lá o Legião Urbana e Marisa Monte, entre outros. Para este mês há uma programação de verão (veja quadro à página 13).
"Percebemos que Santos não tinha uma casa de shows e preenchemos está lacuna", diz o diretor artístico, Pedro Luís Cazella.
Além dos shows, a Reggae Night oferece às quintas-feiras o "Pagode Verão", com apresentação de grupos de pagode da cidade.
Outra sugestão da Baixada Santista é a Planet Z, aberta no verão passado, que toca clássicos do rock, às sextas-feiras, e dance, reggae e axé music, aos sábados.
Portanto, nenhum notívago que for ao litoral vai ficar a ver navios nesta temporada. Os próprios empresários das casas noturnas garantem: "Queremos proporcionar diversão aos nossos clientes onde quer que eles estejam", conclui Christiano Ruiz, da Phoenix.

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