São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Importa o ser humano, não o túnel', diz Maguito

MAURICIO STYCER
DO ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

Aos 47 anos, o governador Luiz Alberto Maguito Vilela diz que seu próximo sonho político é se eleger senador, em 1998. Mas nem o seu maior padrinho, o senador Iris Rezende, parece acreditar nisso.
Iris já declarou que considera Maguito Vilela o candidato ideal do PMDB a um segundo mandato à frente do governo de Goiás. O governador desconversa e afirma ser contra o direito à reeleição de FHC e dos atuais governadores.
Nascido em Jataí, no interior de Goiás, numa família sem tradição política, Maguito Vilela começou sua carreira elegendo-se vereador, pela Arena, em sua cidade natal, aos 25 anos.
Elegeu-se, seguidamente, deputado estadual, deputado federal, vice-governador de Goiás, na chapa liderada por Iris Rezende, em 90, e governador, em 94.
Os seus críticos apontam duas semelhanças do governador com o ex-presidente Collor: o seu corte de cabelo e a política de enfrentamento com o Judiciário estadual.
Maguito Vilela está tentando, por meio de emenda constitucional, estabelecer um salário-teto de R$ 8 mil a todos os funcionários do Estado. Também tenta, na Justiça, não ser obrigado a pagar pensão aos ex-governadores do Estado.
Orgulha-se de ter proposto, quando deputado federal, a extinção do Instituto de Previdência dos Congressistas e de ter renunciado ao direito de se aposentar ao fim de seu mandato.
Maguito Vilela se declara "o único político no Brasil que tem o sigilo bancário quebrado, permanentemente, desde 1993". "O gerente do banco tem autorização judicial para entregar minhas contas para quem quiser", diz.
Casado, dois filhos, apaixonado por futebol (torce pelo Fluminense, do Rio, e chegou a ser jogador do Atlético Goianiense, nos juvenis), Maguito Vilela fala nesta entrevista à Folha sobre os seus programas sociais:
(MSy)
*
Folha - Para a sua política social ser considerada bem-sucedida, o número de pessoas atendidas não deveria estar diminuindo?
Maguito Vilela - Mas já diminuiu. A Arisco, por exemplo, já empregou muitas das pessoas que estavam no programa. Muitas saem espontaneamente, escrevem cartas agradecendo e pedindo a retirada do nome. Cerca de 10 mil pessoas já deixaram o programa.
O fato é que os programas sociais são sérios, tem credibilidade. A sociedade apóia o governo gastar esses R$ 5 milhões com os pobres.
Folha - A oposição diz que esse apoio se deve também a um investimento pesado em publicidade.
Maguito Vilela - De maneira alguma. Hoje investimos muito menos do que se investia em Goiás em publicidade. A previsão é de 0,8% do orçamento para publicidade (cerca de R$ 800 mil mensais).
É importante que você dê conhecimento ao povo do que o governo está fazendo. O povo tem o direito de saber -e o único meio de divulgar é pelos jornais, TV e rádio.
Folha - Por que os empresários de Goiás estão financiando uma grande campanha publicitária de apoio ao sr. nas TVs e nos jornais?
Maguito Vilela - Porque eu reduzi impostos, converso com eles, dialogo, escuto. Empresário aqui é superbem tratado. Ele fala com o governador na hora que quer, ele fala com o secretário da Fazenda... Eles são agradecidos por isso.
O Antônio Ermírio outro dia veio aqui e disse: "Para falar com o secretário da Indústria e Comércio de São Paulo é a coisa mais complicada." Aqui, não. Aqui é muito simples. Se não, o Estado não se desenvolve.
Folha - Como o sr. reage às críticas de que o seu programa social não estimula os beneficiários a saírem da situação em que estão?
Maguito Vilela - Existe um quadro instalado, e esse quadro precisa ser debelado. Se eu fosse um governador preocupado apenas com a doação das cestas, se não me preocupasse com o emprego das famílias, com a vacinação das crianças, com a escola, aí sim, eu poderia entender como um programa populista, eleitoreiro até.
Elegemos o ser humano em Goiás como a coisa mais importante que há aqui. Não é o viaduto, não é o túnel, não é o prédio pomposo, nada disso é mais importante que o ser humano, para nós.
Isso é um investimento que o Estado faz. Porque se eu alimento as crianças, elas vão se defender melhor das doenças, e eu vou gastar muito menos com hospital, médicos, com cadeias, penitenciárias...
Folha - O seu programa de privatização enfrenta muitas críticas, inclusive do PFL. Onde está o problema, no programa ou no PFL?
Maguito Vilela - Não é só o PFL. O PSDB também é contra a privatização, aqui em Goiás. Na realidade, a privatização da hidrelétrica de Cachoeira Dourada é que tem sofrido os maiores ataques.
Mas eu não sei bem se eles têm muito amor pela Cachoeira Dourada ou se têm medo de o governo aplicar muito bem esses recursos e atrapalhar os planos futuros deles.

Texto Anterior: Prefeito critica "populismo"
Próximo Texto: Próxima meta é dar 70 mil lotes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.