São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 1997
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Empresa de Maluf naufraga nas Bolsas

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

As Bolsas de Valores, ávidas defensoras de um segundo mandato para o presidente Fernando Henrique Cardoso, estão "castigando" o maior inimigo da reeleição de FHC, Paulo Maluf.
A Eucatex, empresa do ex-prefeito de São Paulo, figurou na lista dos piores investimentos das Bolsas em 96 -justamente o ano em que Maluf mostrou cacife ao derrotar a petista Luíza Erundina e eleger seu sucessor, Celso Pitta.
As ações preferenciais (sem direito a voto) da Eucatex fecharam 96 com desvalorização nominal de 5,41%, segundo a Economática. Enquanto isso, o Ibovespa, índice das 50 ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, cresceu 63,76%.
As ações de segunda e terceira linhas, representadas pelo FGV-100, subiram 13,98% e a Duratex, principal concorrente da Eucatex, valorizou-se 18,30% no ano passado.
Neste início de ano, os investidores internos e externos acompanham nervosos a tramitação da emenda da reeleição no Congresso Nacional e o ex-prefeito continua desafiando o governo.
Enquanto isso, a "surra" de Maluf nas Bolsas continua.
O Ibovespa disparou na semana passada e contabilizou alta de 6,23% no ano até sexta-feira. Duratex subiu mais 5,13% e o FGV-100, 1,54%.
Eucatex PN, no mesmo período, ficou estagnada: ninguém compra ou vende uma única ação da empresa desde o dia 19 de dezembro de 96.
Isso mesmo após uma notícia positiva: Maluf anunciou ao mercado, três dias antes do Natal, que comprara do irmão Roberto e de outros membros da família o controle total da Eucatex, encerrando um longo período de desavenças familiares na administração da companhia.
Prejuízos
O ostracismo de Eucatex PN, no fundo, reflete uma combinação de fatores que vai além das posições políticas inconvenientes (ao mercado) de seu controlador.
Os prejuízos acumulados pela empresa e a pouca disponibilidade de papéis -fundos de pensão detêm 73% das ações preferenciais- assustaram os investidores, que buscam ações com rentabilidade e boa liquidez (oferta).
Em 95, a Eucatex fechou com prejuízo de R$ 41,3 milhões. No ano passado, perdeu mais R$ 27 milhões (corrigidos pela inflação) até setembro.
A empresa espera voltar ao azul somente no segundo semestre deste ano.
"Há uma tendência clara de reversão de resultados. Estamos reestruturando a empresa e reduzindo custos e, ao mesmo tempo, investindo no aumento da produção. A partir de julho, devemos alcançar o equilíbrio operacional", diz Oswaldo Roberto Campiglia, diretor de relações com o mercado da companhia.
Segundo ele, desde que Flávio, filho de Maluf, assumiu a presidência, em abril de 95, as despesas fixas anuais caíram em R$ 26 milhões e as receitas subiram de R$ 16,7 milhões para R$ 20 milhões, em média.
Injeção de capital
Como as despesas financeiras com um passivo da ordem de R$ 200 milhões são elevadas, o grupo está desmobilizando ativos ociosos para reduzir as dívidas. Outra medida importante será uma injeção de capital, por parte do ex-prefeito, ainda em 97.
'No futuro, vamos capitalizar a empresa buscando recursos no mercado. Agora que o Paulo assumiu 100% do controle, uma oferta pública ou privada fica mais factível", diz Campiglia.
Os analistas de investimento, por enquanto, não se entusiasmaram com as mudanças. Sérvulo Lima, do Bozano, Simonsen, recomenda a venda de Eucatex PN. Para a concorrente, Duratex PN, o conselho é aguardar ("hold").

E-mail: papeis@uol.com.br

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