São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 1997 |
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Que o ministro Edson chame o Pelé
ALBERTO HELENA JR.
É que o tricolor, que havia construído o placar de 3 a 0 nos últimos dez minutos do primeiro tempo, recuou, assustado com a blitz lusa, e só foi respirar um pouco já depois dos 30 minutos. Desanimada foi a tarde em São Januário: estádio vazio para um Vasco e Bangu de segunda categoria. Esses cartolas ainda vão conseguir o que parecia impossível: além de surrupiar-lhe o futebol, tirar do carioca até o humor. Em dois textos concisos e abrangentes, na última semana, o Matinas resumiu mais de 20 anos de luta inglória contra o amadorismo marron dos cartolas que a cada ano cavam mais um palmo da sepultura do nosso futebol. A propósito, tenho para mim que a simbologia da cartola, como signo dos dirigentes esportivos, mudou ao longo das últimas décadas. Antes, representava o rico, o sujeito abonado, almofadinha, empertigado, que tocava seus negócios com luvas de pelica e nenhum sentimento, a não ser um tedioso desprezo pelos menos favorecidos da sorte. Hoje, lembra mais a caricatura do agente funerário do início do século, que entrevia cifrões onde campeava a desgraça. Mas os Belmontes, Calixtos e Pederneras, mordazes cronistas do traço, também costumavam colocar a cartola nas cabeças dos políticos demagogos, oportunistas, corruptos ou ineptos, que os houve, há e sempre haverá, enquanto o homem reinar sobre o planeta. E volto ao Matinas e sua brilhante diagnose sobre o futebol brasileiro. Qual a solução proposta pelo amigo? Que o poder público intervenha, com os instrumentos democráticos da lei, para recriar esse espaço ocupado pela insanidade da cartolagem, exigindo a transformação dos clubes em sociedades anônimas, como está acontecendo em Portugal. Confesso que a mim também seduz essa idéia. Aliás, já seduziu muito mais num passado não tão distante. Contudo, olhando a paisagem de reluzentes cartolas do Congresso Nacional, é inevitável confundi-las com as que repousam nas mesas dos dirigentes esportivos ou guardam silêncio no peito dos antigos agentes funerários. Desvio os olhos para Pelé, nosso ministro dos Esportes, e o que vejo? Não o Pelé, maior atleta do século, a Fera, que, no campo, com talento e arrojo, enfrentava qualquer inimigo e deixava-os humilhados no chão. Vejo o Edson, empresário bem-sucedido, homem equilibrado, diria mesmo cordato, lhano, pleno de boas intenções, um sonhador de sonhos difusos, mas, no fundo, a contrafacção de Pelé. Resumindo: para fazer o gol que haverá de redimir nosso futebol, como quer Matinas e o mundo civilizado, é fundamental que o ministro Edson chame o Pelé. Texto Anterior: Público desaparece na abertura Próximo Texto: Bola fora Índice |
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