São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 1997
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BBS faz 1ª parada gay virtual do mundo

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O próximo dia 20 de janeiro é a data escolhida para a primeira parada gay virtual do mundo.
A iniciativa partiu de usuários da BBS MixBrasil, rede de informações dirigida a gays, lésbicas e simpatizantes. A parada conta com apoio do provedor.
Até o dia 19 de janeiro, todo os usuários estão convidados a enviar mensagens de apoio à comunidade homossexual que luta pela "cidadania plena".
Com o próprio nome ou pseudônimo, o usuário deve acessar as conferências do MixBrasil (www.mixbrasil.com.br), ou enviar e-mails para johnnyskank@geocities.com ou para albenjamin.bee@mixbr.ax.apc.org.
No dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião, "o padroeiro dos homossexuais", segundo Benjamin Bee, organizador da parada, o MixBrasil colocará na rede uma homepage da Virtual Gay Parede, incluindo as manifestações de apoio.
Paradas gays
Em ruas das principais cidades do mundo, é comum paradas gays anuais onde se manifesta o orgulho de ser homossexual.
A mais famosa atravessa as ruas centrais de San Francisco (EUA), no último domingo de junho, marcando o início do verão. Tal parada é, hoje, data festejada da cidade, atraindo turistas - quem a abre são as Dikes on Bikes (Lésbicas Sobre Rodas).
Em Nova York, a parada atravessa o Central Park no Stone Wall Day, dia em que houve um massacre de homossexuais no bar Stone Wall, na década de 70.
No Brasil, as parcas tentativas de se organizar uma parada gay nas ruas minguaram.
Segundo Benjamin Bee, pseudônimo de um artista plástico que não quer seu nome divulgado, "os homossexuais brasileiros são intimidados". Para falar da parada gay virtual, Bee concedeu uma entrevista pelo telefone.
*
Folha - O homossexual brasileiro prefere o anonimato?
Benjamin Bee - A maioria é intimidada pela sociedade. Não gosto da palavra enrustido, que tem um sentido pejorativo. Os gays, aqui, ficam dentro do armário. Sem contar que, durante a ditadura, eles foram perseguidos. O gay brasileiro é muito discriminado.
Folha - Como vai ser a parada virtual?
Bee - Um mestre de cerimônias, a BBS, recolhe as mensagens, que vão ser agrupadas e jogadas numa homepage. Além disso, homenagearemos as pessoas que morreram vítimas da Aids ou da violência. Haverá a ala dos pais e filhos. Será um desfile público, que garantirá a privacidade dos que não quiserem se expor.
Folha - Por que não existem paradas nas ruas brasileiras?
Bee - Em julho do ano passado até que houve uma tentativa, no centro de São Paulo. Foi um fracasso. Nem os organizadores apareceram. No México e na Argentina já existem paradas gays.
Folha - O carnaval é a plataforma de visibilidade do gay brasileiro?
Bee - O carnaval tem outra conotação. Precisamos de uma manifestação política. Não se pode esquecer que o Brasil tem influência católica, e a Igreja discrimina os homossexuais.
Folha - A violência intimida os homossexuais?
Bee - Claro. No ano passado, houve um massacre no Burguer Beer (ponto de encontro de homossexuais, na avenida da Consolação, São Paulo). Trinta skinheads entraram no bar. Foi uma pancadaria. Gay é um pólo de atração. Agora, mais que nunca, está na moda. Mas ele não é pleno na vida pois não pode se mostrar. Quase não tem organizações, a não ser as que mexem com Aids.
Folha - A parada virtual pode resultar numa futura parada nas ruas?
Bee - Ela pode ser estopim. Mas não se pode marcar paradas no inverno. Tem que ser no verão. Sugiro o dia 20 de janeiro, no Rio, e 23 de janeiro, em São Paulo. Ambos os dias são feriados, e antecedem o carnaval.

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