São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 1997
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CRITICAR E PROPOR

Os deputados Fernando Gabeira (PV-RJ), Sérgio Arouca (PPS-RJ) e Augusto Carvalho (PPS-DF) e o senador Roberto Freire (PPS-PE) apresentaram-se, na última quinta-feira, como cabeças visíveis de uma "oposição que propõe", como diz o nome do documento que entregaram ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Em circunstâncias normais, seria uma enorme redundância. Não é por ser oposição que os partidos e/ou as personalidades contrárias ao governo devem ficar desobrigados de apresentar suas proposições.
Nos países de mais sólida tradição democrática, a oposição propõe sempre e não apenas ocasionalmente. No Brasil, tem sido recorrente a sua incapacidade nessa tarefa. Com isoladas exceções, ela se limita a ser apenas contra o governo, sem dizer exatamente do que se coloca a favor.
Hoje o quadro parece estar ainda mais complicado. Como a administração FHC é ambígua, a oposição, como por osmose, assumiu em maior grau tal característica. Os partidos de esquerda, como o PT e outros menores, discordam em tudo do PPB do ex-prefeito paulistano Paulo Maluf. Mas a ele se unem, taticamente, não para propor, mas para se opor (à reeleição, por exemplo).
A oposição do PPB atinge o paroxismo da ambiguidade. Tem um ministro no governo (Francisco Dornelles, da Indústria, Comércio e Turismo), mas faz ao governo de que participa críticas até mais ferozes do que as levantadas pela esquerda (compra de votos no Congresso, por exemplo).
Talvez seja sintomático dessa incapacidade propositiva o fato de os quatro que assumiram a bandeira da "oposição que propõe" representarem partidos menores. Fica claro que falta aos líderes mais expressivos dos partidos oposicionistas uma massa crítica para apresentar suas próprias alternativas para o país.
É uma pena. Essa lacuna empobrece ainda mais o debate político nacional e acaba condenando os que não pertencem ao governo a se limitar a torcer pelo seu fracasso.

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