São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 1997
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Jangadeiros apressaram abolição no Ceará

CLAUDIO GARON
DO ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

Os turistas que vão ao Ceará em busca das praias não sabem estar pisando num Estado com uma das mais ricas e mais notáveis histórias no Brasil.
E não se fala aqui só na contemporânea, capaz de exibir nomes como os do governador Tasso Jereissati e do ex-governador Ciro Gomes, eternos candidatos tucanos à Presidência da República.
Sem ir muito ao passado, aparece a figura do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, líder do movimento militar de 1964 e primeiro presidente do mais recente ciclo militar.
Castelo Branco nasceu em Mecejana (CE), em 20 de setembro de 1900, e morreu num acidente aéreo entre Quixadá e Fortaleza, em 18 de julho de 1967.
Seu governo (1964-67), marcado pelo autoritarismo e pelas cassações, é encarado como importante para a estabilização financeira e o processo de desenvolvimento conhecido como "milagre".
Abolição
Mas foi no final do Império que o Ceará atingiu o ápice de sua distinção. Sem esperar a Lei Áurea (de 13 de maio de 1888), a Província decretou a abolição da escravidão em 1884, mesmo ano do Amazonas.
O personagem mais fascinante do movimento abolicionista cearense, objeto até de samba de enredo, foi o jangadeiro Francisco José do Nascimento, conhecido como o Lobo ou o Dragão do Mar.
Piloto do porto de Fortaleza, Nascimento, junto com José Napoleão, liderou o movimento que na prática acabou com o comércio de escravos no Ceará, em 27 de janeiro de 1881.
Nessa data, o navio Pará chegou a Fortaleza para levar um carregamento de escravos. Mas, antes de eles serem levados a bordo, abolicionistas convenceram os escravos libertos Nascimento e Napoleão a se recusar a fazer o transporte.
O movimento se repetiu três dias depois, quando fundeou o navio Espírito Santo.
Nessas manifestações, que não contaram com oposição do governo, surgiu o canto que marcaria o abolicionismo na cidade: "No porto do Ceará, não se embarcam mais escravos".
Nascimento acabou demitido da posição de piloto pelo governo provincial seguinte, mas o comércio de escravos não voltou ao porto de Fortaleza.

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