São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 1997
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Partido decide adiar votação da emenda

LUCIO VAZ
FERNANDO GODINHO

LUCIO VAZ; FERNANDO GODINHO; RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PMDB decidiu que só votará a emenda da reeleição no plenário da Câmara depois que houver um entendimento com o governo. O partido exige a neutralidade de Fernando Henrique Cardoso na eleição para presidente do Senado.
O candidato do PMDB é o senador Iris Rezende (GO), que disputa o cargo com Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
O líder do PMDB na Câmara, Michel Temer (SP), é candidato à presidência da Câmara e já tem o apoio do Palácio do Planalto. Iris quer garantir condições favoráveis na sua disputa com ACM. Ontem, ele chegou a ameaçar o governo.
"Se o PMDB não ficar com a presidência da Câmara e do Senado, fica difícil aprovar a reeleição. Isso não é chantagem, é posição política", afirmou.
1. DIVISÃO
No final da tarde de ontem, Michel Temer divulgou nota oficial com a posição da bancada na Câmara.
Na nota, disse que o êxito da emenda no plenário "pressupõe um amplo entendimento político com o PMDB, no âmbito da Câmara e do Senado. Isso é indispensável para que a bancada na Câmara reúna condições políticas para votar em plenário".
A nota expressou o resultado das reuniões de Temer com os vice-líderes. Eles concluíram que a influência dos senadores sobre os deputados racharia o partido ao meio em uma votação da reeleição.
O PMDB contribuiria com até 50 votos, o que seria insuficiente para garantir a aprovação da emenda da reeleição. "O importante agora não é o calendário, mas sim contar votos", disse Henrique Alves.
Os maiores problemas ocorreriam nas bancadas de Goiás, Paraíba e Pará, lideradas, respectivamente, pelos senadores Iris Rezende, Ronaldo Cunha Lima (PB) e Jader Barbalho (PA). Os três controlariam 21 votos.
O senador José Sarney (PMDB-AP) e os ex-governadores Orestes Quércia (SP) e Newton Cardoso (MG) teriam influência sobre mais 25 deputados. O número de dissidentes chegaria, portanto, a 46 votos.
2. MULHERES
Temer e seus vice-líderes chegaram a esses números em reunião na noite de anteontem, na quarta secretaria da Câmara. Após uma análise de cada bancada, concluíram que não haveria votos suficientes no plenário.
Um deputado fez uma brincadeira. Disse que os senadores têm muita influência sobre os deputados, enquanto na Câmara apenas as deputadas que são mulheres de senadores teriam influência sobre os maridos.
Ele se referia a Lídia Quinan (GO), mulher do senador Onofre Quinan (GO), Rita Camata (ES), mulher do senador Gerson Camata (ES), e Tetê Bezerra (MT), mulher do senador Carlos Bezerra (MT) -todos do PMDB.
Nessa reunião, ficou acertado que os representantes do partido na comissão especial aprovariam a emenda da reeleição. Depois, o partido firmaria a posição sobre a votação em plenário.
"A participação do PMDB na comissão especial foi técnica. De agora para a frente, não há qualquer possibilidade de entendimento", disse Iris Rezende.
3. REUNIÕES
Para acertar a estratégia da bancada na Câmara, a cúpula do PMDB no Senado se dividiu em duas reuniões na noite de anteontem. Elas aconteceram nos apartamentos do senador Ney Suassuna (PB) e do ex-governador Newton Cardoso.
Suassuna recebeu 16 senadores, entre eles Iris Rezende, Pedro Simon (RS) e José Fogaça (RS). Essa reunião foi monitorada, por telefone, pelos senadores José Sarney e Jader Barbalho.
Eles reafirmaram a estratégia de esvaziar a votação da emenda da reeleição no plenário da Câmara até a escolha do novo presidente da Casa, orientando os deputados a não comparecer à sessão.
"Queríamos que a bancada do PSDB no Senado apoiasse a candidatura de Iris, mas a neutralidade do Palácio do Planalto será suficiente", avaliou Suassuna.
Iris deixou a reunião com Suassuna e foi para o apartamento de Newton Cardoso, onde estavam Sarney e Barbalho. Segundo Cardoso, ficou decidido que a votação no plenário da Câmara só ocorrerá depois de 15 de fevereiro.
4. CARGOS
Na manhã de ontem, os senadores fizeram uma "sintonia fina" com os deputados, em reuniões específicas por Estado.
Os três senadores e os sete deputados da Paraíba se reuniram no gabinete de Humberto Lucena, com a presença do governador José Maranhão e do secretário de Políticas Regionais, Fernando Catão.
Após confirmado o adiamento da votação, Cunha Lima sugeriu que todos entregassem seus cargos no governo federal -Catão chegou a ler sua carta de demissão.
Lucena interveio e ponderou que essa atitude seria muito radical: "Vamos aguardar mais um dia para ver o desenrolar dos fatos".
5. VOTAÇÃO A PRESTAÇÃO
Os senadores reagiram negativamente à proposta do PFL de votar a emenda a prestação. "Não há nenhum ambiente para isso", disse Jader. "O PMDB vai se recusar a participar da votação no plenário", garantiu Iris Rezende. "É impossível isso acontecer", completou Carlos Bezerra.
Suassuna foi enfático. "O PMDB já cedeu ao ouvir seis laudas de desaforos e ao participar da comissão especial. O PFL não pode ficar criando novos obstáculos, a não ser que esteja interessado na crise entre o PMDB e o governo."
6. REAPROXIMAÇÃO
O presidente Fernando Henrique Cardoso chamou ao Palácio da Alvorada na noite de terça-feira o líder do PMDB no Senado, Jader Barbalho (PA), para uma conversa que durou das 22h30 às 2h30 de ontem.
"Recebi esse gesto do presidente como uma sinalização de que ele quer retomar o diálogo com o PMDB", disse Barbalho.

Colaborou RAQUEL ULHÔA

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