São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997
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Não mais do que ilusão

JANIO DE FREITAS

Por ora tem pouco ou nenhum significado concreto a pretensa disposição governista, difundida ao fim de mais uma reunião palaciana, de submeter a reeleição ao plenário da Câmara já na semana que vem. Até entrar nessa reunião, nem um só dos promotores da reeleição deixava de reconhecer, e declarar, que o governo não tem os 308 votos necessários, sem os ter assegurados não pode ir para a votação e, sem se recompor com o PMDB, não reúne os 308 apoios. No decorrer da reunião, tais circunstâncias não poderiam ser invertidas.
A esta altura, ainda mais do que antes, não há voz individual que possa, por iniciativa própria, representar o PMDB. Sobretudo depois dos insultos que Fernando Henrique Cardoso lançou no rosto de peemedebistas relevantes, criou-se uma integração em um núcleo de congressistas do partido como não se via há muito. Não se via, aliás, em partido algum. E, sem que houvesse novidades no PMDB, vários daqueles peemedebistas já tinham deixado ou deixavam Brasília quando Fernando Henrique apenas começava o encontro com a tropa de choque reeleitoral.
À falta de fatos concretos e perceptíveis que as justificassem, as afirmações de votação na próxima semana só se explicam como criação artificiosa para atenuar a evidência de que o PMDB se impôs ao governo, exposta em todos os jornais pelas inúmeras declarações de governistas, todos os de destaque no Congresso, sobre a impossibilidade de enfrentar a votação na Câmara sem a recomposição com os peemedebistas. Ou enfrentá-la para a derrota certa.
A recomposição tem mais dificuldades do que aparenta, seja pelo lado do PMDB, onde se somam mágoas e uma nova consciência de força partidária, ou pelo lado de Fernando Henrique, cuja aliança com o PFL envolve compromissos agora onerosos. Entre estes, a permanência da candidatura de Antonio Carlos Magalhães à presidência do Senado.
Por tudo o que aconteceu, de fato, antes e depois da reunião ontem promovida por Fernando Henrique, tudo o que o governo pode pretender, por ora, é que a primeira votação da reeleição, das duas na Câmara, se dê antes do fim do mês, ficando a outra para depois de 15 de fevereiro. Assim, a primeira ocorreria ainda com Luís Eduardo Magalhães como presidente da Câmara, ou seja, fazendo do seu cargo um instrumento pró-Fernando Henrique. Se assim obtida uma aprovação, a outra se tornaria menos difícil.
Mesmo esse plano é muito duvidoso. Os que estão definindo, mesmo, o PMDB no Congresso não se mostram, nem tenuemente, dispostos a desconsiderar a convenção partidária que vetou a votação do projeto reeleitoral antes de 15 de fevereiro.
A esta altura, o mínimo a dizer sobre os planos reeleitorais é que eles se tornaram muito problemáticos.

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