São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997
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FHC tenta acerto com PMDB e irrita PFL

VALDO CRUZ; FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Conversa de quatro horas entre Jader Barbalho e o presidente causa ciúmes entre os aliados governistas

A reaproximação entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e o PMDB desagradou a pefelistas e tucanos, abrindo nova crise no governo.
Para aplacar esse novo conflito, FHC disse ao presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães, que não vai apoiar a retirada das candidaturas às presidências da Câmara e do Senado.
O estopim dessa nova crise foi o encontro promovido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso com o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), gerando ciumeiras na base governista.
A conversa durou quatro horas, no Palácio da Alvorada. Começou às 22h30 de terça-feira e terminou às 2h30 de quarta.
Uma versão da conversa chegou aos ouvidos de Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA) e do líder do PMDB, deputado Michel Temer (PMDB-SP), apenas na noite de quarta.
1. CRISE CHEGA A RESTAURANTE
Mas foi suficiente para provocar ira nos pefelistas e nos peemedebistas aliados de FHC.
Temer estava reunido com deputados do partido no restaurante Piantella, ponto de encontro de políticos em Brasília.
Os peemedebistas estavam sentados à mesa que leva o nome de Ulysses Guimarães -era a preferida do ex-presidente do PMDB.
Por volta das 21h, Temer foi informado que Jader Barbalho propôs a FHC a retirada de todas as candidaturas a presidente da Câmara e do Senado.
A versão que circulou no restaurante dava conta que o presidente teria acenado positivamente, liberando o senador para trabalhar pela renúncia dos candidatos -o próprio Temer na Câmara e os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL) e Iris Rezende (PMDB) no Senado.
A primeira atitude do líder do PMDB foi procurar o presidente Luís Eduardo, filho de ACM -candidato no Senado- e defensor de sua candidatura.
Pegou o celular e discou para o número de Luís Eduardo. Do outro lado da linha atendeu um secretário do pefelista. "Um momento, vou levar o celular para o presidente", respondeu.
Temer foi logo informando a Luís Eduardo sobre a proposta de Jader. Disse ainda que a versão era que FHC tinha gostado.
2. MEU PAI NÃO RENUNCIA
O presidente da Câmara, segundo presentes, reagiu violentamente. "Meu pai não renuncia. E o meu acordo para eleger você (Temer) está em pé."
Temer disse que os dois precisavam se reunir. "Onde você está?", perguntou o líder do PMDB. "No Piantella", disse Luís Eduardo.
Seguiram-se gargalhadas. Temer estava no piso superior do restaurante, enquanto Luís Eduardo estava no andar de baixo reunido com pefelistas.
Dois mineiros se juntaram aos pefelistas: o deputado Roberto Brant (PSDB-MG) e o ministro Paulo Paiva (Trabalho).
Um novo personagem do PMDB passou a fazer parte da conversa com a presença dos mineiros na mesa: o prefeito de Contagem, Newton Cardoso. O ex-governador mineiro está pressionando FHC por mais espaço no governo. Newtão, como é conhecido, quer indicar o próximo ministro dos Transportes.
3. NEWTÃO
Os tucanos mineiros estão irritados com os últimos encontros entre o prefeito e ministros de FHC. Ontem, a informação era que Sérgio Motta (Comunicações) teria prometido a pasta dos Transportes a Newtão.
Até o nome de um mineiro ligado ao prefeito circulou como provável novo ministro: Clésio Andrade, presidente da Confederação Nacional dos Transportes.
Ao final do jantar, Temer desceu do piso superior e passou na mesa de Luís Eduardo. O presidente da Câmara disse que se reuniria no dia seguinte (ontem) com o presidente Fernando Henrique Cardoso para cobrar explicações.
Dois peemedebistas, os deputados Henrique Eduardo Alves (RN) e Moreira Franco (RJ), resolveram quebrar o clima de irritação e fizeram uma proposta aos pefelistas em tom de piada.
"Que tal lançar uma nova chapa de unidade: Paes Andrade para presidente da Câmara e Roberto Requião para o Senado?". E acrescentaram: "Se vocês fazem questão de uma das presidências, podemos apoiar o senador Josaphat
Marinho (PFL-BA) no Senado".
Requião e Marinho são dois criadores de dor de cabeça para o governo. Paes está sendo considerado um traidor por FHC.
4. LUÍS EDUARDO VAI A FHC
Às 9h de ontem, Luís Eduardo se reuniu com FHC no Palácio do Planalto. Chegou irritado e saiu mais calmo. Participou do encontro o ministro Sérgio Motta, um dos principais articuladores da reeleição.
Na conversa, Luís Eduardo informou ao presidente que não concordava com a proposta de retirada das candidaturas à presidência da Câmara e do Senado.
FHC disse que não avalizou a proposta de Jader Barbalho. Somente teria ouvido e dito que poderia até ser uma solução, mas achava difícil naquele momento.
Para acalmar os ânimos dos pefelistas, no Planalto, a versão sobre o encontro de FHC com Jader é que "conversar não significa rendição". Luís Eduardo saiu do encontro com FHC convicto de que a proposta de renúncia dos candidatos tinha sido abortada.
Em seguida, reuniu em sua casa o grupo de trabalho pela reeleição. Além dele e Motta, foram convocados o ministro Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos) e os líderes Michel Temer, Benito Gama (PFL-BA), Inocêncio Oliveira (PFL-PE) e José Aníbal (PSDB-SP).
No encontro, fecharam a proposta de insistir na votação da emenda da reeleição na próxima semana. A decisão foi, então, levada ao conhecimento do presidente Fernando Henrique Cardoso no Palácio da Alvorada, às 15h.
5. ESFRIA A CRISE
À saída do encontro, os pefelistas sinalizaram que a crise entre FHC e uma ala do PFL tinha arrefecido. "Vamos votar o primeiro turno na próxima semana", disse o líder Inocêncio Oliveira.
Segundo a Folha apurou, FHC assumiu inteiramente a responsabilidade por esse novo cronograma. Luís Eduardo não quis correr esse risco.
Como o dia já estava chegando ao fim, apesar da declaração de Inocêncio, a estratégia de votar na semana que vem passou a ser considerada apenas uma hipótese remota por aliados do governo.
Um importante articulador do PPB (partido de Paulo Maluf) não havia sido informado até as 17h da nova operação. Disse que precisaria de cinco dias para mobilizar os deputados pepebistas. E que o mais provável seria votar não na quarta-feira que vem (dia 22), mas sim no dia 29.

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