São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997
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Oliver Stone confunde Nixon com J. E. Hoover

Dora Longo Bahia

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Não era mesmo de se esperar que o diretor Oliver Stone usasse de seu conhecido liberalismo "made in Hollywood" para fazer justiça a Richard Milhous Nixon, 37º presidente norte-americano.
Seu "Nixon" acaba de sair em vídeo e poderia ser uma bela opção para as tardes chuvosas das férias. Mas é chato de dar com um gato morto na cabeça até o gato miar. Arrasta-se por três horas de reminiscências de infância, colagens de filmes da época e diálogos no Salão Oval, que Henry Kissinger classificou como "bobagem, ficção pura".
Não dá mesmo para levar Stone a sério como cineasta que pretende contar a história recente da América. No início da carreira, como roteirista, conseguiu um Oscar pela brilhante adaptação de "Midnight Express", sobre o adolescente americano preso na Turquia por porte de haxixe.
Mas, depois de dirigir o surrealista "JFK", ele próprio admite ter virado "motivo de riso de toda Washington". Antes, já tinha levantado poeira com "Platoon", visto por muitos críticos como um exercício de maniqueísmo travado por "anjos" e "demônios", que está longe de ser o retrato fiel do conflito no Vietnã pretendido pelo diretor, um veterano da guerra que foi agraciado com o Bronze Star e o Purple Heart, as mais altas condecorações do Exército americano.
O maior pecado de Stone em "Nixon" não foi tentar adivinhar como presidentes e assessores se comportam a portas fechadas ou ter transformado o presidente em um paranóico que odiava comunistas e os Kennedys com o fervor de um J. Edgar Hoover. Não. O maior pecado do filme se chama Anthony Hopkins.
Nixon era um desses políticos que fazem cartunistas deitar e rolar. Uma caricatura em carne e osso, ele tinha um jeito de sorrir, de falar e de se mexer que poderia facilmente ser incorporado até pelos dublês de ator e modelo da Globo.
O Nixon de Hopkins é pesado, trágico demais e tem um sotaque que mistura um texano (Nixon era da Califórnia) com um nativo da cidade inglesa de Brighton.
Tony Hopkins (como diria Fernanda Torres, que contracenou com ele) deveria ter cuidado da criação do personagem com o mesmo esmero usado por Paul Sorvino para fazer seu Kissinger. Mas nem isso teria tirado o filme da lama.

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