São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997
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A lógica da reeleição

LUÍS NASSIF

No Congresso há um tipo especial de parlamentar. São pessoas de bom nível, que não participam do chamado "baixo clero", nem das formulações de cúpula. Por isso mesmo, aprenderam a desenvolver um sentido de análise acurado e despido de paixões sobre os grandes temas do Congresso.
Em sua avaliação, a lógica do PMDB -antecipada ontem por Clóvis Rossi- e do governo indicam que a emenda da reeleição tem grandes chances de ser aprovada.
O impasse atual decorre dos receios do PMDB em relação especialmente a Antônio Carlos Magalhães na presidência do Senado.
A capacidade do partido de influenciar em uma indicação política, ou em um pleito regional, são ímãs poderosos para parte expressiva da fauna política. Obviamente o cargo de presidente do Senado ou da Câmara confere poder de barganha enorme ao seu titular.
O PMDB é um partido cindido, não dispõe de uma liderança forte e há tempos seus parlamentares estão sendo cobiçados por outros partidos. No início da gestão de José Sarney, na presidência do Senado, houve investida pesada sobre os parlamentares peemedebistas, especialmente por parte do PFL, e que acabou contida pelo próprio Sarney.
Dilema peemedebista
Reside aí o dilema peemedebista.
Se fosse garantida a eleição de Michel Temer (PMDB-SP) para a presidência da Câmara -por conta do acordo para eleger ACM para o Senado-, o equilíbrio estaria assegurado.
Mas, primeiro, ninguém confia em ninguém. Tanto que o próprio Temer -aliado natural do governo- sugeriu o adiamento da votação da emenda da reeleição só depois de garantir a sua própria eleição para a presidência da Câmara.
Segundo, sem interferência de Fernando Henrique Cardoso, o senador Iris Rezende (PMDB-GO) conseguiria derrotar ACM, com o voto dos próprios tucanos. E isso aumenta a mágoa peemedebista.
Ruptura ou não
A partir daí, há dois quadros possíveis: o de ruptura e o de conciliação.
Em caso de ruptura, o grupo do PMDB mais oposicionista inviabilizaria a emenda da reeleição. Mas o partido estaria destruído, irremediavelmente cindido em dois.
O governo também só teria a perder. Perderia não só a emenda da reeleição como aumentaria substancialmente a bancada oposicionista.
No Senado, as esquerdas têm 11 senadores; o PMDB, 22. Supondo-se uma cisão pelo meio, os 11 senadores do PMDB simplesmente dobrariam a representação oposicionista na casa.
Criou-se, assim, uma espécie de equilíbrio no terror -que marcou a guerra fria. Os dois lados teriam tanto a perder, que o confronto é a última das alternativas.
Por outro lado, ambos sabem que se se prolongar por muito tempo a questão da reeleição, o processo de reformas poderá estar irremediavelmente comprometido -afetando não só a imagem do governo como do Congresso.
Um plebiscito -imagina esse observador- não sairia antes do segundo semestre. Logo depois, o país entraria em clima de campanha eleitoral para as próximas eleições. Seriam mais dois anos parados.
Então por que, de um lado, parlamentares do PMDB acenam com o pedido de demissão de seus afilhados; e, do outro, parlamentares do PSDB tentam levantar a bandeira da consulta popular?
Para esse observador, faz parte do jogo de blefes e apostas do meio político. A partir desse raciocínio, considera-se que são grandes as possibilidades de se chegar a um acordo que viabilize a aprovação da emenda da reeleição.

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