São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997 |
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'Não quero soar como Pierre Boulez ou Miles Davis'
MARCELO REZENDE
Graças ao maestro David Zinman, da Baltimore Symphony Orchestra, que se interessou por seus movimentos chamados "Lex", "Krypton" ou "Oh, Lois", o doutor em composição por Yale pôde finalmente popularizar sua "mitologia americana". No intervalo entre os trabalhos de "Jackie O", que prepara para a Houston Grand Opera (estréia prevista para 1º de março), Daugherty falou à Folha por telefone de Michigan, EUA. (MR) * Folha - A aproximação da cultura popular e seus ritmos (o jazz ou o rock) é única saída para o compositor erudito? Michael Daugherty - Sim. Quando um compositor começa a escrever uma obra, tem que ter uma idéia. Para muitos compositores da década de 60, essas idéias vinham da matemática ou de algo tão abstrato quanto. Eu tenho 42 anos e cresci nos EUA assistindo à TV e vendo filmes. Não ia muito aos concertos, mas lia histórias em quadrinhos. Adorava as cores dos personagens e a imaginação contida nos enredos. "Metropolis Symphony é um pouco resultado disso. Todos compositores possuem uma voz pessoal, mas eu estou particularmente interessado em introduzir alguma coisa diferente. Estou interessado em compositores que realizem a travessia e tragam novas idéias. Uma das coisas interessantes em minha trajetória é que tive a chance de trabalhar com Gil Evans, o arranjador do jazzista Miles Davis, e aprendi muito. Trabalhei também com Gyõrgy Ligeti, que sempre escreveu obras originais. Eu não quero fazer música minimalista e também não quero soar como o francês Pierre Boulez ou ainda como Miles Davis. Produzo música segundo a minha perspectiva cultural. Folha - Na Europa se acredita que o jazz é a música clássica dos norte-americanos. Daugherty - Acho que sim, de uma certa maneira. Se entendermos a música clássica como algo que possui uma história e uma evolução. O grande desafio para os compositores hoje é exatamente o peso histórico que a música possui. É importante conhecer a história, mas ela pode ser também corrosiva. Eu quero ser um compositor que não rejeita a história, mas que é capaz de renová-la. Folha - E o que significa "algo novo". A música experimental? A mistura jazzística de Gavin Bryars? Daugherty - Todos nós fazemos o melhor que podemos. Algumas pessoas são capazes de surgir com idéias realmente inovadoras. E outros compositores se tornam originais assimilando uma idéia já existente. Todos contribuem para a história da música. Folha - O que as pessoas encontrarão em "Jackie O"? Daugherty - Eu já tinha feito trabalhos sobre Elvis Presley e o Super-Homem e procurava uma personalidade feminina. Meu amigo Wayne Koestenbaum havia escrito um livro sobre Jackie e começou a fazer o libreto. Os personagens são Jackie O, Onassis e Maria Callas. A ação se passa em dois dias na vida de Jackie, na Factory, do artista Andy Warhol, em 1966. Disco: Metropolis Symphony Lançamento: Argo (importação) Quanto: R$ 25 (em média) Texto Anterior: Eruditos invadem o popular Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
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