São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997
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Forró usa satélite para invadir o país

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O forró vai usar uma rede virtual de rádios para conquistar espaço no mercado fonográfico do país. Trata-se da Somzoom-Sat, uma cadeia formada por 26 emissoras desde Manaus (AM) até Porto Alegre (RS) e que só veiculará músicas de forró.
A programação será gerada num estúdio da gravadora Somzoom, em Fortaleza, e distribuída para as emissoras afiliadas via satélite, utilizando tecnologia digital. É a primeira rede nacional cuja sede está fora do eixo Rio-São Paulo.
Orçada em R$ 150 mil, a Somzoom-Sat já acertou o aluguel do canal de satélite com a Embratel e aguarda apenas a autorização do Ministério das Comunicações, em Brasília, para entrar no ar.
"Guerra"
O presidente da Somzoom-sat, Emanuel Gurgel, 43, que também é proprietário da gravadora, afirma que o lançamento da cadeia de rádios é um desdobramento da "guerra" que o gênero forró trava com os programadores de rádio do país.
"Apesar de o forró ser sucesso de público, é boicotado nas emissoras de rádio, que têm suas programações ditadas pelos interesses das multinacionais da indústria fonográfica", diz Gurgel.
Gurgel diz que o perfil de sua gravadora reforça sua tese. Especializada em forró, a Somzoom, no ano passado, faturou R$ 5 milhões, vendeu 1,5 milhão de CDs e disputa com a Velas, de Ivan Lins, a liderança das gravadoras independentes do país.
Segundo Gurgel, apesar de liderar com folga na região Nordeste, onde só perde para a axé music, na Bahia, o forró sempre teve dificuldades de se consolidar no restante do país.
"Sempre achei isso contraditório, porque o principal público consumidor do forró, que é o migrante nordestino, está espalhado pelo Brasil todo", afirma o proprietário da Somzoom.
Nordestinos em SP
Associado ao radialista Amorim Filho, Gurgel montou um escritório na avenida Paulista, em São Paulo, arrendou parte da programação de duas emissoras de rádio paulistanas e passou a agendar semanalmente shows dos forrozeiros de sua gravadora em clubes da cidade.
Como suporte do projeto, montou uma loja de discos especializada em venda de discos de forró, no bairro do Brás (região leste de São Paulo), e passou a promover noites de autógrafo dos forrozeiros para os seus fãs.
"O fato de São Paulo consumir atualmente 36% das nossas vendas mostrou que a invasão deu certo e nos animou para alimentar o sonho de ganhar o Brasil para o forró", diz Gurgel.
Outras gravadoras
Amorim, que é responsável pela programação da Somzoom-Sat, afirma que a rede deve privilegiar a divulgação dos artistas da gravadora de Gurgel, mas vai abrir espaço para forrozeiros de outras gravadoras.
"O nosso objetivo é fortalecer o forró enquanto expressão cultural genuinamente brasileira. Estamos apostando em conquistar um segmento importante do público", diz Amorim.
Segundo Amorim, a Somzoom-Sat vai disponibilizar 24 horas de programação para suas afiliadas, mas elas é que determinarão a quantidade de horas que ficarão em cadeira.
Amorim afirma que, entre as 16 e as 19h e entre 0h e 8h, todas as 26 emissoras ficarão em cadeira. "São os horários preferidos dos forrozeiros", diz.

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