São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997
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"Balto" se encontra entre o lobo e o cão

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
DA REDAÇÃO

Apesar de ambientada no Alaska de 1925, a história de "Balto", desenho animado produzido por Steven Spielberg que chega hoje ao cinema, poderia cair no gosto do antropólogo Darcy Ribeiro.
Balto é meio cão, meio lobo. Ou seja, nenhum dos dois. Graças à prosopopéia, figura de linguagem que aparece em 9 de 10 histórias infantis, ele sente como um humano e sofre um drama que o primeiro brasileiro, segundo Darcy, teve de enfrentar.
Em "O Povo Brasileiro", Darcy defende que esse que dá nome ao seu livro surgiu dos filhos do conquistadores brancos com índias.
Meio americano, meio europeu, acabava não se sentindo aceito nem pelo pai, nem pela mãe. Procurou uma identidade e encontrou a de brasileiro.
Balto quer ser cão, mas não consegue. É desprezado pelos colegas e seus donos. E disputa com Steele, o mais forte e rápido da região, o coração da bela Jenna.
Jenna pertence à menina Rosy, que, como outras crianças da cidade de Nome, cai doente, vítima da difteria. Faltam remédios e, para buscá-los, são 960 km até Nenana, intransponíveis para barcos e aviões. Só um trenó, puxado por cachorros, seria capaz de fazê-lo.
Há uma corrida classificatória, em que o lobo-cão vence. Mas Steele não joga limpo, e a ascendência do futuro herói o tira da expedição. Steele falha, e é Balto que tem de salvar as crianças. Busca, para isso, seu "lado lobo".
"Um cão não pode fazer essa viagem sozinho, mas um lobo pode", diz seu amigo, o ganso Boris.
Assumindo-se como cão (pela fidelidade aos humanos) e como lobo (pela capacidade de realizar a proeza), Balto acaba sendo aceito.
O filme é baseado em história real. Em 1925, Balto liderou a expedição de que fala o desenho.
Virou herói nacional, foi esquecido, relembrado e, finalmente, reerguido à condição de herói. No início de sua fama, a ele e a seus companheiros foi erguida uma estátua no Central Park.
"Balto", o filme, não merece tanto. Apesar do argumento forte, tem um enredo que não ousa; visualmente, é correto, mas não inovador (os animais são reciclados de outros filmes, sem traços novos). A música, que, por vezes, é melhor que a aventura, está ali para acompanhar, não para impressionar. É um filme de férias, para crianças que já viram "Pinocchio" e "101 Dálmatas".
Além disso, se passa no Alaska. É muito frio e muita neve, longe da realidade das chuvas de verão, que produzem as catástrofes por aqui.

Filme: Balto
Direção: Simon Wells
Produção: EUA, 1995 (74 min.)
Cinemas: Gemini 2, Metro 1, Center Iguatemi 1 e Ipiranga 1

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