São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997
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AO VOTO, SENHORES

As lideranças governistas decidiram ontem tentar votar, na próxima semana, a emenda da reeleição no plenário da Câmara Federal.
Está muito longe de ser a solução ideal. Esta Folha defendeu a realização de um plebiscito e continua acreditando que essa forma de consulta popular é o caminho mais indicado. Mas o realismo político mais elementar mostra que, se for possível de fato votar a emenda da reeleição na próxima semana, então que se faça.
O mundo político parou completamente, obcecado pelo tema. O mundo administrativo também não parece pensar em outra coisa. Os agentes econômicos olham apreensivos para a progressiva hegemonia do assunto nas discussões políticas, enterrando outras questões de maior relevância, como as reformas estruturais.
Ainda não há sinais de que o quadro econômico esteja se deteriorando em função dos desentendimentos entre os partidos que dão sustentação parlamentar ao governo federal. Porém o simples bom senso indica que, quanto mais tempo passar sem que haja uma definição sobre a reeleição, mais nuvens escuras se acumularão no horizonte econômico.
Do ponto de vista do público em geral, o debate parece esotérico. Um dia, o PMDB, um partido majoritariamente governista, entra em choque com o governo. No dia seguinte, o presidente dá o troco. No terceiro dia, há um princípio de diálogo entre o governo federal e os peemedebistas, para, no quarto dia, esse entendimento provocar ciúmes no PFL, outro partido da base governista. Se a votação na próxima semana servir para romper esse triste cenário, é melhor realizá-la de uma vez.
Mas, se se verificar que não há condições de colocar a emenda em votação, o governo terá de decidir: ou entrega-se definitivamente ao lamentável "é dando que se recebe", a um preço que se eleva cada vez mais com o passar do tempo, ou se decide a dar consequência prática à frase presidencial segundo a qual é preciso ouvir a "voz rouca das ruas".

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