São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 1997 |
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PSDB quer 'esmagar' PMDB no Congresso
FERNANDO RODRIGUES
A idéia é "esmagar" o PMDB, roubando dos peemedebistas o posto de maior partido da Câmara dos Deputados. Para isso, já está em curso uma estratégia que visa filiar pelo menos 20 parlamentares ao PSDB até o início de fevereiro, segundo a Folha apurou. O principal artífice dessa iniciativa é o ministro Sérgio Motta (Comunicações). Motta tem licença do presidente FHC para agir em qualquer área do governo, principalmente a política. O PSDB tem hoje 87 deputados. É a quarta maior bancada da Câmara, atrás do PMDB, do PFL e PPB. Com os possíveis 20 novos filiados, a bancada pularia para 107 e seria a maior da Câmara. O objetivo é atingir esse número de filiações até o início de fevereiro para que os tucanos tirem proveito de uma questão regimental. No mês que vem é que serão considerados os números de cada bancada para efeito de distribuição de cargos nas cobiçadas comissões de trabalho da Câmara. O partido -ou bloco de partidos- que tiver a maior bancada em fevereiro tem poderes quase ilimitados para ficar com os cargos de presidente e relator de todas as comissões. Hoje, por uma questão de convivência pacífica e conveniência política, o PFL e o PMDB dividem esses cargos. Apenas raramente concedem alguma função importante para os outros partidos da base aliada. O PPB e o PSDB sempre ficam com migalhas atiradas pelos pefelistas e peemedebistas. Essa situação, na visão dos tucanos, é uma anomalia. O partido que elegeu o presidente da República e os governadores dos principais Estados não consegue dominar os trabalhos na Câmara. Sete do Paraná Até agora FHC já recebeu a informação da adesão de sete deputados do Paraná. Nesse Estado, quem coordena a migração e cooptação de novos filiados é o deputado Basílio Villani (PPB). Villani, um ex-malufista, está de malas prontas para o PSDB. "Devo assinar a ficha nos próximos dias, mas já avisei ao presidente", disse à Folha. O deputado tem grande experiência política no Congresso, especialmente quando há confrontos do Poder Legislativo com o Executivo. Villani foi da tropa de choque de José Sarney na disputa pelo mandato de cinco anos, em 88. Depois, passou para o PRN e votou contra o impeachment de Fernando Collor, em 92. Nos últimos tempos, era malufista. Junto com Basílio Villani, segundo a Folha apurou, devem assinar ficha de inscrição no PSDB os seguintes deputados paranaenses: Djalma de Almeida (do PMDB), Renato Johnsson e João Iensen (do PPB) e José Borba e Odílio Balbinotti (do PTB). Desses sete deputados que vão engrossar a bancada tucana, apenas três haviam se declarado a favor da emenda da reeleição no levantamento da Folha. "Todos vão votar a favor agora", disse Basílio Villani, que levou alguns dos neotucanos para falar pessoalmente com FHC no Palácio do Planalto anteontem. A adesão de paranaenses ao PSDB poderia ser até maior. Mas o presidente dos tucanos no Paraná, o ex-deputado Hélio Duque, vetou a entrada do deputado federal Paulo Cordeiro (PTB) no partido. A saída para Cordeiro foi migrar para o PFL. Os pefelistas são o segundo partido depositário dos parlamentares migrantes. Vão para o PFL os deputados e senadores que por algum motivo não são aceitos no PSDB. O senador Osmar Dias (sem partido-PR), irmão do ex-governador do Paraná Álvaro Dias, também vai se filiar ao PSDB. Álvaro Dias já é um dos principais articuladores tucanos no Paraná. Movimento espontâneo A caça de deputados para entrar no PSDB não tem sido uma tarefa muito difícil. Segundo Basílio Villani, que tem feito contatos também em "São Paulo, Espírito Santo e Santa Catarina", existe uma espécie de "movimento natural em direção ao ninho tucano". "Quando você vê que um partido vai crescer, a tendência é vir mais", afirma Villani. Segundo o deputado, "não se trata de uma pressão de cima para baixo". Por iniciativa própria, ele estaria convidando colegas da Câmara para entrar no PSDB. Ele próprio, um malufista antigo, disse que é a favor da reeleição e ficaria marginalizado dentro do PPB. "Só posso sair. Fico sem opção. O mesmo vai acontecer com o pessoal do PMDB e de outros partidos que estão ficando contra." Para Villani, o que está ajudando também é o movimento em grupo de migração. "Uma mudança em bloco é muito mais fácil. É igual a um parto sem dor", explica. Texto Anterior: Presidente critica artigo de Sarney Próximo Texto: Para tucano, FHC não deve se arriscar Índice |
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