São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 1997
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Escola cria banheiro para travestis

DA SUCURSAL DO RIO; DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Para evitar constrangimentos nos dias de ensaio, a escola de samba Acadêmicos do Grande Rio, de Duque de Caxias (Baixada Fluminense), decidiu criar um banheiro exclusivo para os travestis que frequentam sua quadra.
A idéia partiu desses frequentadores, de acordo com Paulo Machado, diretor de barracão da Grande Rio.
"Eles ficavam deslocados tanto no banheiro dos homens quanto no das mulheres. Era uma coisa vexatória", diz Machado. "E alguns dos outros frequentadores também não gostavam muito de dividir o banheiro com eles."
A direção da Grande Rio ordenou então a reforma de um antigo banheiro feminino que seria desativado e sua utilização exclusiva pelos travestis.
"Somos pioneiros", vangloria-se Machado. "Nenhuma outra escola faz esse tipo de atendimento ao público. Tem escola que discrimina, mas a nossa, não. Os travestis adoram."
Ao contrário dos banheiros masculino e feminino da quadra, esse não tem qualquer identificação na porta, por meio de palavra ou símbolo.
"Todos já sabem onde fica. É bem destacado dos outros, não dá para confundir", afirma o diretor, que usa também o local "quando não há ensaio".
A decoração interna do banheiro também não oferece, segundo Machado, qualquer conotação sobre os usuários. As paredes são cobertas por azulejos na cor cinza.
Rejeitados
A funcionária responsável pela limpeza do banheiro impede a entrada de pessoas estranhas à finalidade do recinto. "Mas nem precisa. Os próprios travestis põem ordem na casa", diz Machado.
Para o presidente do GGB (Grupo Gay da Bahia), Luiz Mott, 50, os homossexuais brasileiros não estão reivindicando um banheiro específico.
O presidente do GGB acrescentou que a criação de um banheiro específico só é interessante para os travestis. "Os travestis são rejeitados nos banheiros femininos e assediados nos masculinos."
Mott disse também que a inovação lançada pela escola de samba carioca é "completamente dispensável" para os homossexuais.
"Parece que a decisão foi tomada mais para afastar os homossexuais dos sanitários masculinos do que para protegê-los da discriminação."

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