São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 1997
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O futebol brasileiro na era da globalização - 5

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, dedicamos os quatro primeiros artigos desta série sobre a modernização do futebol brasileiro às mudanças estruturais nos clubes, nas Federações e, consequentemente, na CBF.
Essas mudanças teriam como meta estabelecer um "down-sizing" nos campeonatos estaduais, em favor da Copa e do Campeonato Nacional -estrategicamente mais harmônica com as tendências do mercado futebolístico.
Há sempre os que alegam que a tradição regional é muito forte para ser mitigada no Brasil. Não é verdade.
Quem conhece, por exemplo, um pouco da história política da Itália e da Espanha (países que hospedam, ao lado da Inglaterra, os torneios nacionais mais ricos do mundo), por exemplo, sabe que os ódios regionais nesses países europeus, onde houve inclusive derramamento de sangue, são mais fortes do que os brasileiros.
Esse ágio que o futebol brasileiro paga anualmente, os torneios regionais, contribui para ampliar demasiadamente a oferta de jogos -desgastando as marcas e diminuindo a vida útil dos jogadores.
Em vez de progredir, o futebol, por aqui, regride. Para os grandes clubes, o calendário de 1997, por exemplo, prevê mais competições do que o da temporada de 1996.
O inchamento do calendário se deve, em grande parte, às emissoras de televisão. E aqui chegamos ao terceiro ponto importante para a modernização do futebol brasileiro.
Não há dúvida que a grande parceira do futebol é a televisão. Graças a ela, o futebol conquistou escala global e, nos campeonatos mais ricos, ela é responsável por considerável parcela do faturamento dos clubes e dos jogadores (Luís Nassif vai ao ponto quando afirma que o Cruzeiro pensa que vendeu o Ronaldinho, quando na verdade vendeu milhares de minutos de audiência de TV em horário nobre e em escala internacional. Esse é o valor real de mercado do "passe" do jogador).
É inegável que as transmissões de futebol pela TV vêm melhorando bastante no Brasil. Há maiores investimentos (os patrocínios também estão mais caros) nas imagens e uma melhoria sensível na qualidade das informações.
São também legítimos a competição entre as diferentes emissoras pelas transmissões de jogos e o direito dos telespectadores em assistir.
Ocorre que, no Brasil, o excesso de oferta de transmissões de jogos tem efeito negativo sobre o futebol -e, a médio prazo, também reverberará na audiência das emissoras.
A guerra pela audiência e pelos anunciantes, por um lado, e o imediatismo dos clubes, por outro, desvirtuaram o sentido e a parceria saudável entre a televisão e o futebol.
Por aqui, a televisão mostra jogos de times brasileiros de domingo a domingo, nos horários mais estapafúrdios.
É impossível manter o interesse da audiência com uma oferta tão absurda de horas de futebol, além do desgaste ao qual expõe os jogadores, os times, os patrocinadores, os torcedores e até a imprensa.

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